16.2.09

Projeto prevê retirada dos trapiches dos portos do Açaí e da Palha


Os trabalhadores do Porto do Açaí continuam preocupados com o projeto da prefeitura de Belém, o Portal da Amazônia, para a orla da Av. Bernardo Sayão, pois o mesmo prevê a retirada dos trapiches dos portos públicos da Palha e do Açaí. Esta notícia foi publicada em um jornal local, no dia 4 de fevereiro, e partiu de uma declaração do secretário municipal de urbanismo, Sérgio Pimentel. Segundo o secretário, os trabalhadores não estão bem informados sobre o projeto e por isso fazem especulações. Ainda segundo Pimentel, em entrevista ao jornal local, os trabalhadores vão continuar ali depois do projeto, mas ficarão sem os trapiches.

Félix dos Santos, coordenador geral da Associação dos Trabalhadores do Porto do Açaí, contesta declaração do secretário que os chama de desinformados. Segundo ele, a desinformação e descaso vem da prefeitura. “O grosso da comercialização destes produtores ribeirinhos se dá exatamente no centro do trapiche, como é que vamos ficar aqui sem ele? Como os barcos que chegam do outro lado da orla vão atracar e descarregar seus produtos? Isso é a mesma coisa que fechar o porto. Como é que dizem que não vão acabar com o Porto se querem retirar o nosso trapiche, que é fundamental para o trabalho que desenvolvemos aqui?”, desabafa.

Além dos produtores ribeirinhos, estudantes, deficientes físicos e a comunidade em geral utilizam barcos como transporte entre as ilhas e Belém e dependem do trapiche do Porto do Açaí para desembarcar.

Associação dos Trabalhadores busca apoio da OAB

Para tentar reverter a situação, nesta terça-feira, uma comissão da Associação dos Trabalhadores do Porto do Açaí irá à OAB em busca de orientação e apoio. Muito bem organizados em sua luta os trabalhadores do Porto do Açaí já acumulam, desde 2003, dezenas de ofícios enviados às secretarias de urbanismo e de economia solicitando melhorias. “Mas nunca vimos boa vontade nestes gestores. Prova disso foi o que ouvi do secretário à época do desabamento ocorrido no Porto da Palha. Ele disse que iria verificar a denúncia, mas que não tinha nada haver com isso. Já na Secom, todos os anos ele nos pedem um novo cadastro dos trabalhadores, alegando que perderam o anterior”, denuncia. “Tudo o que conseguimos aqui, como a coleta de lixo, a organização do acesso dos carregadores (carrinho de mão) ao trapiche, foi com esforço próprio e muita luta”.

O Porto do Açaí é o único Porto 24 horas e um dos portos públicos de maior movimento de Belém, onde atracam barcos que trazem a produção dos ribeirinhos que moram nas ilhas de Barcarena, Acará e Marajó entre outras. Os produtos mais comercializados são o açaí, farinha, sementes de cacau e frutas regionais.

Ao longo da Avenida Bernardo Sayão forma-se um verdadeiro cinturão comercial, de onde centenas de famílias retiram seu sustento. O que estes trabalhadores esperam deste projeto é uma melhoria de vida para todos que moram ali e não o contrário, tendo seus espaços melhorados para turista ver, sem que seja pensado uma infra estrutura que beneficie aqueles que a vida inteira viveram e trabalharam na área.

“Trabalho há mais de 20 anos neste porto, à noite, pois o porto funciona ininterruptamente, vendendo café, tapioquinha e lanches. Se tiram o trapiche, onde é que vou trabalhar?”, pergunta a cafeteira Raimunda Nonata Pantoja da Silva.

Ao invés de retirar o trapiche, segundo Félix dos Santos, a prefeitura deveria investir em recuperá-lo. “Nossa realidade vem através do rio e estamos muito preocupados com o que vai acontecer. O Porto precisa de melhorias, estamos com as madeiras podres com risco de desabamento. Já impedimos que os carregadores de carrinho de mão entrem no trapiche, para evitar muito peso. Mas precisamos de ajuda. O Ministério Público também está desconhecendo nossa luta, por isso estamos indo à OAB e vamos recorrer aos movimentos sociais, sensibilizar a opinião pública e o que mais for preciso, na esperança de garantir a sobrevivência das famílias que dependem economicamente deste porto”, finaliza Félix.

Porto é o segundo mais importante em comercialização do açaí em Belém

O Porto do Açaí é considerado o segundo maior entreposto de Belém, só perdendo para o Ver-O-Peso. Por ali transitam, em média, 800 pessoas por dia e quando é safra do açaí, este número costuma dobrar. Nestas épocas, chegam no porto cerca de 60 mil quilos do fruto por dia.

Não à toa, o Porto do Açaí já fez parte do trabalho desenvolvido pela Associação de Universidades Amazônicas - UNAMAZ , com o Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia - PNCSA ,juntamente com a Associação dos Portos – ATPA e a Associação de Mulheres Pescadoras e Trabalhadoras Rurais da Ilha de Itacoãzinho, Igarapé Caixão e Igarapé Genipauba – ASMAMI.

O resultado foi uma exposição de caráter etnográfica sobre a visão de vida dos peconheiros e peconheiras, dos carregadores do porto, dos marreteiros, dos artesãos das rasas que trabalham diretamente com o Açaí.

A exposição já circulou em vários espaços de Belém e no interior e até fora do país, em uma exposição que ocorreu na Itália. Por meio dessa exposição fotográfica, as comunidades mostram suas histórias de vida e ressaltam a precariedade e a falta de estrutura decorrente da total ausência dos serviços sociais. Á época a exposição mostrou o Porto do Açaí, como um local aberto que funciona 24 horas sem nenhuma estrutura pública de limpeza, saneamento, higiene e água potável tratada, dentre outros serviços públicos. A situação pouco mudou desde então.

CONTATOS:
O Porto do Açaí fica na Av. Bernardo Saião, 1725, no bairro do Jurunas. Telefones:3271.2499 - Félix dos Santos ou Sr. Abaeté.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa situação pode ser mudada se, toda a comunidade se organizar e escancarar para toda a sociedade suas necessidades, e o que pode acontecer se o porto for fechado. Que não se iludam, indo em gabinetes procurar os "SRs da situação" porque quando eles acham que é certo, eles fazem. E não estão de certo, preocupados com os que precisam e vivem do porto do içai. Eles querem embelezar a cidade para os turistas, eles não pensam que uma cidade cheia de desempregados e miseráveis é feia, mesmo sendo a cidade mais linda do mundo.