8.6.11

Ela é nitroglicerina pura. Gláfira fala do novo momento de sua carreira!

Fotos: Tereza Jardim

Em abril deste ano, uma entrevista concedida por Gláfira Lobo ao blog da Pro Rock anunciava sua saída da banda Álibi de Orfeu. A cantora alegou falta de tempo para se dedicar à banda por causa dos estudos acadêmicos. Mas, como diria Sheakespeare, em Hamlet, há mais coisas entre o céu e a terra...

Esta semana via e-mail, Gláfira avisou. Está se preparando para seguir carreira solo, com a gravação de um CD. E que inicia este mês uma temporada, soltando a voz em todas as quartas-feiras no projeto Ensaio Estação, sempre a partir das 16h, no Galpão 1 da Estação das Docas.

Paraense, do Marajó, Gláfira Fonseca Lobo nasce exatamente em 1980, início de uma década cheia de novos movimentos e atitudes no comportamento da juventude. Filha de um programador de rádio, ela veio pra Belém e se criou no bairro do Jurunas, ouvindo todo tipo de música. Traz os anos oitenta sem dúvida, na veia, mas é no final dos anos noventa que ela começa a se afirmar. Em 1997, tinha 17 anos, quando recebeu o convite para tocar na banda Cartagora, sua primeira experiência profissional como cantora. 

Aos 20 anos, já cantava no saudoso Carpe Diem, barzinho que fez história, comandado pela Lia Sophia, hoje sua amiga e companheira de jornada. E depois tivemos as lendárias quartas-feiras do não menos lendário Café Imaginário, onde ela mandava todas dos Secos e Molhados e dos Mutantes, para delírio e alegria de todos. Lá, inclusive, ela viveu uma situação inusitada. Pense. O ator Marcos Palmeira na platéia, pedindo para que ela não parasse de cantar, quando a noite já virava dia. Mais uma voz na pequena, porém, latente multidão que a acompanhava em todas as temporadas. Não foi apenas uma.

Carreira solo mesmo, ela já tinha, percorrendo os barzinhos, escola maior de quase todo artista da música. Paralelamente, a Álibi de Orfeu já era um trabalho profissional e consagrado, desde 2003, quando topou o convite do baterista Rui Paiva.

Foi um tempo todo bom demais e que agora fica na memória para dar margem a uma nova carreira, com uma Gláfira muito mais amadurecida como artista, produtora e gestora cultural. Academicamente ela estudou e analisou a Lei Semear desde sua criação. Este ano também, por meio desta lei de incentivo a cultura, ela dá início a um projeto itinerante, com patrocínio do Programa Conexão Vivo. 

Com tantas novidades, o blog que já tinha a intenção de fazer uma entrevista com a cantora, não podia deixar passar a oportunidade. Inteligente, pimenta pura, ela está envolvida com política cultural, vive um momento importante na carreira e nos estudos. Gláfira, que adora conversar sobre cultura e tudo mais que estiver ligado a música, respondeu todas as perguntas detalhadamente, para delícia de nossos leitores. É pra vocês.

Holofote Virtual: Como foi sair da banda Álibi de Orfeu, um trabalho que te trouxe ótimos momentos na carreira?

Gláfira: Foi difícil. Eu brinco dizendo que a sensação é a mesma de ver um filho casando. Indo embora com outra mulher. Mas foi uma decisão pensada. Coloquei todos os prós e os contras de sair da banda. O problema era que eu já não tava na mesma "vaibi" (traduzindo: vai bicha). Tava pensando no mestrado que quero fazer em "Cultura e Desenvolvimento" em Salvador. Preciso estudar por causa da avaliação do CAPES. Tava em fase de defesa da monografia da especialização em Responsabilidade Social. Estou fazendo escola técnica em Marketing. 

Nossa! Não conseguia mais ter tempo pra ensaiar. Os meninos passaram quase um mês ensaiando sozinhos. Daí, comecei a ver que eu estava prejudicando o desempenho da banda. Achei por bem sair e dar lugar para outra vocalista que tá com todo o gás que a banda merece.

Holofote Virtual: O que fica da experiência? E quais os momentos mais marcantes com a banda?

Gláfira: Os grandes shows, a relação com o grande público, a lembrança de palcos enormes, mas principalmente a amizade com os meninos. Nunca vou esquecer nossa aventura em São Paulo pra tocar na Bienal da UNE, a gravação do disco com Edgard Scandurra, com ele dizendo o que fazer, e cantar com o IRA à convite do Nazi e do Edgard. A abertura do show da Pitty, com 15 mil pessoas cantando “Ando meio desligado” com a gente.

Holofote Virtual: Os shows no Ensaio Estação terão repertório de música brasileira. Como é este projeto?

Gláfira: Meu dia é quarta-feira. O projeto é uma parceria dos lojistas do Galpão 1 com a Pará 2000. Começa na quarta e vai até sábado, sempre no horário de 16h às 18h, no Galpão 1, lógico. O repertório é só de música brasileira. Tem baião, xote, frevo, sambas, ciranda etc.. Tudo, claro, numa versão pensada para a Estação das Docas.
  
Holofote Virtual: Como é este teu novo trabalho para o CD?

Gláfira: No disco vou seguir esta mesma linha, mas quero um disco simples, quase neste mesmo formato de voz, violões e percussão dando um cheiro. Quero poder reproduzir o disco nos shows ao vivo, mas principalmente viajar com ele. Nos arranjos tenho a parceria do Luiz Guilherme, o mesmo que tocava comigo nas lendárias quartas do Café Imaginário. Escolhi o Gui porque ele me conhece, conhece minha voz e tocacando, sempre, dá ênfase a ela. Agora, o formato te confesso que fui persuadida pelo Pio Lobato, que me convenceu a fazer o trabalho assim.

Holofote Virtual: O que o Pio Lobato disse pra te convencer?

Gláfira: Segundo ele, minha voz é bonita e agradável de escutar, mas tem ficado em segundo plano nas coisas que tenho feito. Bom daí ouvindo isso do criteriosíssimo Pio, apostei na ideia e chamei o Guilherme que, em Salvador está fazendo os arranjos e mandando pra mim via net. 

Holofote Virtual: O rock perdeu espaço nas tuas escolhas?

Gláfira: Adoro rock'n roll e dificilmente isso vai sair da minha vida. No entanto, neste momento quero gravar este disco bem acústico e abrasileirado. Penso que depois quero gravar coisas do Joel Mello (Suzana Flag) e do Eldereffe, assim como estou gravando coisas do Renato Torres agora. Às vezes me pego pensando sobre os discos do Clepsidra, do Cravo Carbono e do Euterpia. São de rock ou MPB? Mas isso é um outro projeto.

Holofote Virtual: Quando inicias a gravação do CD. Já começou? Onde?

Gláfira: Inicialmente só com o Guilherme, mas o disco terá mais um violonista e um percussionista que ainda não decidi quem serão. Estamos na fase dos arranjos. O Guilherme vem final de junho pra fazer a pré-produção no Estúdio da Ná Music.

Holofote Virtual: Estás ativa na política cultural, coordenando projetos. Fala um pouco disso e o que vem aí pela frente.

Gláfira: Minha monografia foi um estudo sobre a Lei SEMEAR. Um dos eixos de estudo dela foi a política pública cultural e por conta disso passei a entender um pouco melhor essa dinâmica. Fui eleita em dezembro do ano passado como representante da regional norte do Fórum Nacional de Música. Tenho viajado para debater com gente do país todo, sobre diversos assuntos como direito autoral, políticas públicas, leis de incentivo, representatividade e regionalismos dentro dos investimentos públicos etc.

O processo é lento, pois tem muitos interesses, principalmente financeiros, em jogo, que são divergentes, as reuniões são enormes e cansativas. E quando terminam as oficiais começa as reuniões pra fazer as alianças. Foi assim que conseguimos a provar o Custo Amazônico como prioridade para o governo durante a II Conferência Nacional de Cultura em Brasília.

Holofote Virtual: Como é tua atuação no Fórum de Música?

Gláfira: Quando eu entrei, achei que eu ia mudar o mundo e fazer revolução. Eu não entendia que o Fórum é um espaço de debate político cultural, e ocupa uma instância consultiva. Tem sido bem trabalhoso, as reuniões são sempre longas, de passarmos o dia inteiro dentro de uma sala fechada debatendo.

Este ano finalizamos uma carta do FNM sobre as diretrizes que o Direito Autoral na música deveria seguir. Muitos dos que estão no FNM são advogados e o bicho pega por lá. Descobri que é difícil em todo o país. Não é só me Belém que temos problemas, como ECAD, cachês, aposentadoria, dificuldade em captação de recursos etc. Os problemas são os mesmos no Brasil todo, só que em alguns lugares as pessoas são mais ativas politicamente dentro da área cultural.

Os músicos no Pará, neste sentido, ainda tá muito atrás de Minas ou do Paraná. Em Minas, por exemplo, tem cooperativa com mais de 600 músicos. O Fórum estadual é composto por entidades. Minha função na executiva do FNM é fundar os fóruns estaduais na região norte, mas o processo é lento e demando custos com passagem, estadia e alimentação.

Holofote Virtual: E a política cultural para o setor música no Estado do Pará?

Gláfira: Como falei minha monografia foi em cima desse tema pesquisando a lei SEMEAR. No Brasil, como um todo, ainda impera a política de governo e não a de Estado como deveria ser. Daí quando troca de governo muda tudo de novo e alguns projetos bons acabam. O Pará é muito dependente das leis de incentivos fiscais, e isso é muito ruim pra um estado tão grande como o nosso. É muito reduzido o número de empresas que patrocinam via lei SEMEAR.

Desde 1998, quando a lei começou a vigorar até 2010, tivemos algo em torno 20 empresas usando a lei para patrocinar. E muitas delas patrocinaram uma única vez. As empresas que se mantém patrocinando são apenas as de telefonia móvel, dois magazines, uma drogaria e uma loja de informática.

Tem um estudo do Gerson Banhos, ex-presidente da FCPTN, gerenciadora da lei SEMEAR, que aponta que em 2007 dos 121 projetos aprovados apenas 46 foram captados, sendo 39 no mesmo ano e 12 passados para o ano seguinte.

Holofote Virtual: Novidades da carreira solo, gravação de CD e um projeto muito bacana de circulação, que já tem patrocínio. O que vai rolar e o que há além?

Gláfira: Estou coordenando um projeto já aprovado pelo Conexão VIVO, que se chama “AO VIVO”. É um projeto de circulação que acontecerá inicialmente em Belém, Soure, Algodoal e Castanhal. No elenco, além mim, estão a Adriana Cavalcante, Lia Sophia, o Charles Andi e o Renato Torres. O “Ao Vivo” promete “bombar” horrores.

Temos nos encontrado pra tentar compor. Tem sido divertido encontrar os meninos. Imagina a fofocalhada que é. Outro dia nos reunimos na casa da Adriana Cavalcante, ficamos tocando violão e nos lembrando das histórias que ligam as nossas carreiras. Nossa! Rimos muito.

Os projetos desse ano prometem. Vou gravar umas cinco músicas durante o ano e lançar exclusivamente na internet para baixar gratuitamente. Estou analisando que blog, ou site ai fazer isso. Está sendo delicioso isso tudo.

Holofote Virtual: Opa, e agora, como fica então a vida acadêmica?

Gláfira: Acabei de me tornar especialista em Gestão e Responsabilidade Social, quero ir fazer mestrado me Salvador, na UFBA, em Cultura e Desenvolvimento. Quero estudar sobre a “Economia da Cultura”, talvez pesquise sobre a influência da cultura na economia da cidade de Belém no período do Círio de Nazaré. Mas isso são cenas para o próximo capitulo. 

2 comentários:

Felipe Nascimento disse...

Assisti o último show do Álibe de Orfeu e acho que a Glafira foi bem substituida, a nova cantora tem uma voz potente e parece que foi o primeiro show dela, sei lá. Foi bonito o show e com teatro cheião. A Glafira teve uma participação linda no Álibe, assiti vários shows e só tenho a desejar muita sorte e sucesso em sua nova carreira solo.

Elaine disse...

Gláfira você está linda e poderosa nas fotos, apesar do pouco tempo de vida musical juntas foi uma honra dividir o palco com você, te desejo sucesso nesta nova fase e que a gente se esbarre de nov