17.8.12

Tamba Tajá ganha versão na voz de Camila Honda

Fotos: Alan Soares
 
Em Belém desde o início deste ano, depois de fazer um mestrado em Criação Artística Contemporânea em Portugal, a paraense Camila Honda resolve se assumir como cantora e investe agora na carreira solo. Ela acaba de gravar Tamba-Tajá, de Waldemar Henrique, semana passada, no Estúdio Ápice, ao lado de Felipe Cordeiro (programações e guitarra), Tom Salazar Cano (Guitarra - tremolo), Rafael Azevedo (baixo) e Ulysses Moreira (gravação e mixagem). A música está sendo tocada na Rádio Cultura do Pará, e já tem clipe rodando no youtube.

Reza a lenda que um índio da tribo Macuxi se apaixonou por uma índia de sua aldeia. Juntos, foram felizes por algum tempo até que a bela adoeceu e não pôde mais andar. Para não se separar dela, o índio teceu uma tipóia e a amarrou com sua amada nas costas. Um dia, porém, percebeu que ela estava morta. Infeliz, enterrou-se com ela à beira de um igarapé. Algumas luas se passaram, até que daquele local brotou uma planta incrível. 

Inspirado nesta história indígena, Waldemar Henrique compôs Tamba-Tajá, a tal planta que surgiu à beira daquele igarapé, com folhas triangulares, de cor verde escura, e que traz no seu verso outra folha de tamanho reduzido, cujo formato se assemelha ao do sexo feminino. A partir disso, a união das duas representa, na mitologia indígena, o amor existente entre um casal.

E Waldemar ditou: “Tamba-tajá me faz feliz /Que meu amor me queira bem /Que seu amor seja só meu de mais ninguém/Que seja meu, todinho meu, de mais ninguém...  /// Tamba tajá me faz feliz/Assim o índio carregou sua macuxy/Para o roçado, para a guerra, para a morte/ Assim carregue o nosso amor a boa sorte...” 

A música vem desde sempre sendo cantada em concertos líricos e já foi gravada por artistas da música popular, como Nilson Chaves + Vital Lima e Fafá de Belém. Na voz de Camila, a música ganha versão contemporânea, com sotaque de acordes saltitantes, resultado da boa programação de Felipe Cordeiro, e encontrando um terreno fértil na voz doce e melódica de sua intérprete.

“Waldemar Henrique é o Villa Lobos da Amazônia, um dos maiores compositores do nosso estado e que faz uma relação da música erudita com a música popular. Eu gostava dessa música e pensava cantá-la. Mas era uma canção que circula no repertório lírico e que a Fafá de Belém fez uma versão inesquecível no disco, de mesmo título (1976). Eu achei que no século XXI seria interessante cantá-la de outra maneira”, diz a cantora.

Camila já foi bailarina, estudou arquitetura, foi designer de jóias, e a partir daí encarou o mestrado em artes e teve algumas experiências com o teatro.

“Minha maior vontade é reduzir as fronteiras entre essas linguagens”, diz ela que começou a cantar profissionalmente, em 2008, à convite à convite do pianista Paulo José Campos de Melo, mas precisou dar uma interrompida neste impulso, ao ir para Portugal, onde fez mestrado, só voltando este ano a Belém. 

Camila cresceu ouvindo Beatles, Mutantes, Vinícius de Moraes, muito por influência de seu pai José Honda, que curte pop rock e bossa nova, segundo a filha, ”à mesma medida”. Com referências mais atuais, como Tulipa Ruiz, o Marcelo Jeneci e Karina Bhur, além da amizade com a nova geração de artistas paraenses que começam a ganhar repercussão nacional, como Felipe Cordeiro, ela acredita que está fazendo o trabalho certo, na hora e no lugar certo.

“A arte me influencia de maneira geral. Dança, teatro, cinema, design. A cultura visual não pára de se transformar e de me transformar também”, define. Isso é perceptível quando a vemos cantar, como na performance que já anunciava sua volta aos palcos, em sua participação no show “Vida é Sonho”, que celebrou os 23 anos de carreira de Renato Torres, realizado em abril deste ano no Sesc Boulevard, em Belém. 

“Quando voltei, o cenário musical aqui tinha ganhado uma dimensão que eu não acompanhei crescer, e foi um momento oportuno pra que eu assumisse o meu lado cantora e começasse um trabalho solo”, reflete. 

Confira o videoclipe da gravação da música Tamba Tajá, que teve câmeras de Rafael Samora, Renan Aires e de Rodolfo Mendonça (edição), que também dividiu a direção com Samora. O Holofote Virtual bateu um papo com Camila Honda, que nos fala na entrevista abaixo um pouco mais sobre este novo momento. 

Holofote Virtual: Esta parceria com Felipe Cordeiro é algo recente? 

Camila Honda: Ele estava comigo na primeira vez que eu fiz uma gravação em estúdio. Gravamos uma versão demo de Baby, do Caetano Veloso, em 2009. 

A gente trabalhou junto outras vezes mais e hoje ele continua muito presente, inclusive no fato de eu ter assumido a música profissionalmente. O Felipe tem me ajudado a descobrir uma identidade musical, a crescer enquanto artista e como pessoa. E porque isto está realmente acontecendo, eu começo a me sentir mais à vontade na música, no palco... 

Holofote Virtual: Por que escolhestes Tamba Tajá do Waldemar Henrique? 

Camila Honda: O meu trabalho tá no comecinho. A gente tá compartilhando o nosso processo criativo. Divulgamos uma primeira demo, um mash up de uma música minha e uma canção francesa do Serge Gainsbourg, alguns vídeos na internet, e agora esta gravação de Tamba tajá também faz parte desse processo de experimentações. 

Holofote Virtual: Como tu vês estas novas experimentações musicais. É isso que te interessa no momento? 

Camila Honda: O Pará está vivendo um momento musicalmente muito especial no contexto da música brasileira. 

Eu sou mais uma artista que faz música brasileira no Pará e que faz parte dessa diversidade musical que o resto do Brasil está descobrindo. 

Estou no comecinho do meu trabalho, então experimentar é a palavra do momento. Conceito é fundamental e está sendo muito prazeroso trabalhar em busca dele. 

Holofote Virtual: Quais são os projetos daqui pra frente? 

Camila Honda: Nesse segundo semestre vão acontecer coisas bem legais. Estreamos no Circuito Terruá no início de agosto e vamos participar de outros eventos. É só o começo, tem muito trabalho pela frente! Meu plano? Estar sempre onde a minha felicidade está.

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