22.9.12

Projeto Combo faz + duas apresentações em Belém

Uma escadaria de diva e um quintal carregado de memórias. É nestes espaços que fogem ao padrão das apresentações cênicas que o projeto COMBO, organizado pela Dimenti Produções Culturais Ltda, da Bahia, se despede de Belém, neste sábado, 22, e domingo, 23. Entrada franca. 

Por aqui desde a última quarta-feira, 19, patrocinado pela Funarte – Prêmio Klauss Vianna de Dança e produção local dos Produtores Criativos, a despedida do projeto em Belém começa neste sábado, com a apresentação de “Um Corpo que Causa”, que será apresentado na escadaria interna e secular do Colégio Barão do Rio Branco, a partir das 19h. “Um Corpo que Causa” é um solo coreomusical, criação de Jorge Alencar, diretor artístico do Dimenti desde 1998. 

Também curador e criador em dança, teatro e audiovisual, neste solo, ele passa por várias situações que envolvem o tema da sexualidade, seja via palavra, movimentos ou canções. “Este corpo quer causar alguma coisa. No sentido da expressão ligada a universo gay e LGBT, ou seja, na gíria, alguém que dá uma pinta, se glamourisa ou que sexualiza uma situação. São jeitos de entender. Outra coisa é um corpo que tem uma causa política, um interesse sobre sexualidade. O que eu quero é provocar efeito na plateia, um impacto e para isso utilizo os meios musical, coreográfico, dramático, físico. Este impacto pode ter como retorno a emoção, o riso, o deslocamento irônico do público”, explica Jorge Alencar, que também é Bacharel em Comunicação Social (UCSAL), licenciado em dança (UFBA) e Mestre em Artes Cênicas (PPGAC – UFBA).

“Um Corpo que Causa”, assim como “Kodak”, “Edital” e “Single”, solos que também integram o COMBO, não tem um espaço tradicional de apresentação. Em cada cidade que chega, busca uma escada para sua evolução.

“Uma escada de diva”, pediu Jorge ao enviar, há um mês, para a produção local, as necessidades de sua apresentação. “Não que eu tenha abandonado o espaço do teatro, mas tenho buscado espaços específicos, que tenham marcas. Por isso eu brinco que peço uma escadaria de diva, quanto mais ‘Divesca’ mais legal. Neste caso, a ideia é criar uma plasticidade para isso ou uma espécie de imaginário da escada, um corpo que cai, que se despende dela, o vulnerável. Então, o público, tem este impacto inicial. É de se perguntar: que escada é esta?”, conta o ator. 

É o que Jorge tenta ir respondendo ao longo do espetáculo. Em cena, numa encruzilhada artística ele canta, encena e dança acompanhado por um tecladista. Na trilha há sete canções, entre elas músicas de Barbra Streisand, Cauby Peixoto, Freddie Mercury, Madonna e até uma música da Pequena Sereia da Disney.

“São músicas que figuras que estão associadas à questão da sexualidade, como o Cauby, considerado a primeira Drag Queen assumida e até a Ariel, a Pequena Sereia, que queria trocar sua voz por pernas de mulher. É uma espécie de transexual. E é um espetáculo pra todas as idades, viu. Na cena há momentos coreográficos em que viro Carmem Miranda, Calypso, Kaoma. É exaustivo, eu termino bem cansado, mas feliz”, diz Jorge.

Souvenir - O ator e diretor, que começou a carreira aos 13 anos fazendo teatro, além de criar e estar na cena do solo “Um Corpo que Causa”, é também diretor do espetáculo que encerra a temporada do COMBO em Belém, neste domingo, 23, no Casarão do Boneco, a partir das 17h.

“Souvenir estreou no quintal de uma casa em Salvador e em Belém não será apresentado de forma tão diferente. O espetáculo, que traz três atores em cena, remete às lembranças de cada lugar por que passamos. É um espetáculo de memória e um quintal é sempre carregado de memórias performáticas experimentadas já na infância, onde se toma banho de chuva e se inventa mil coisas”, explica Jorge. Souvenir traz embriões. As experiências das brincadeiras de quintais que se tornam artísticas. 

Quem não tem uma história de quintal na memória? Em cena, os atores mostram pequenos números que vão trazendo à tona esta memória e emociona o público na simplicidade de sua execução. “São cenas caseiras de arte, que trazem uma imprecisão, quase amadorística, porém, proposital. A chuva é banho de mangueira, é tudo meio precário, mas medido e pesado. Tem mais a ver com cinema que teatro, tem uma sutileza realista que é muito cinematográfica”, explica. 

Produção local - Tem se tornado uma constante. Cada vez mais Belém é parada obrigatória para as produções artísticas de fora do estado em circulação pelo país. E fazer a produção local das montagens cênicas que sempre é coisa simples. No caso de COMBO, em cada cidade que chega, o grupo se depara com as especificidades do lugar e o encaixe de seus trabalhos não menos específicos. 

“É um trabalho exaustivo, de pesquisar a cidade e negociar com os locais tentando firmar uma parceria. A recompensa vem na hora que se consegue ver o espetáculo pronto, o público a espera, senhoras e senhores, o espetáculo vai começar!”, diz Cristina Costa que coordena a Produtores Criativos. No caso de COMBO, a demanda mais difícil foi de uma escadaria de “Diva”.

Depois de percorrer várias, como a do Theatro da Paz, Museu de Arte Saca, MHEP e Mabe, entre outras, chegou-se à centenária escadaria do Colégio Barão do Rio Branco, que fica na Generalíssimo esquina da Braz de Aguiar. A dificuldade para conseguir uma dessas escadarias é a falta da utilização das mesmas para apresentações deste gênero. 

"Os espaços têm suas rotinas e, por que não? E suas burocracias. A conciliação com a ação artística, às vezes assusta, pois não é só o artista e a equipe técnica, é o artista, a equipe técnica e o público”, considera Cristina. 

“Não é tão simples construir uma escada num teatro, aquilo que vai transportar o público para vários universos, do cinematrográfico ao do sonho. Esta escadaria traz outras possibilidades, que um palco não traria. Já viajamos com este solo para o Rio de Janeiro, São Paulo, Recife. Em cada lugar me deparo com um problema. Em Belém, a cada foto de escada que os Produtores Criativos nos mandavam, enlouquecíamos. Acho que Belém é a cidade das mais belas escadarias que já vimos”, diz Jorge, feliz com a escada que conseguiu por aqui.

“Nosso desafio é olhar para nossa cidade e buscar identificar o que o espetáculo precisa. Produtores Criativos teve esta experiência com o grupo Clowns de Shakespeare (Natal/RN), intensificada agora com o projeto Combo em Belém, além do espetáculo de dança Tá Rolando o Bafon!, produção paraense que ficou em cartaz entre 13 e 16 de setembro, e que também necessita de espaços alternativos para sua realização. É um trabalho exaustivo, de pesquisar a cidade e negociar com os locais tentando firmar uma parceria. A recompensa vem na hora que se consegue ver o espetáculo pronto, o público a espera, senhoras e senhores, o espetáculo vai começar”, finaliza Cristina Costa. 

Serviço 
Um Corpo que Causa - sábado, 22 - Escola Barão do Rio Branco - 19h – Av. Generalíssimo, esquina da Braz de Aguiar. Souvenir - domingo, 23 - Casarão do Boneco - 17h - Av. 16 de Novembro, 815. Mais informações 8177.7504. Apoio: Hilton Hotel, Fundação Curro Velho, Unipop, Fundação Tancredo Neves, Escola Estadual Barão do Rio Branco, Funtelpa e Rádio Cultura.

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