1.10.12

Amazônia Doc encerra com prêmios e dificuldades

Curta Juliana contra o jambeiro... é premiado
Crítica e público consagraram o documentário “Carta para o futuro” como o melhor longa-metragem da mostra competitiva da quarta edição do Festival Pan-Amazônico de Cinema, o Amazônia Doc 4. Mas este ano o festival, que aconteceu dentro da programação da Feira Pan Amazônica do Livro, à convite da Secult, foi realizado em condições adversas, formato reduzido e teve inúmeros problemas, gerando angústias que foram compartlhadas ontem com o público, quando a diretora do evento Zienhe Castro subiu ao palco do Teatro Maria Sylvia Nunes para abrir a sessão de encerramento e premiação. 

O público, por exemplo, conferiu mais um pré-lançamento do curta-metragem “Certeza”, projeto de Pedro Tobias, vencedor do edital Ideal de Curta-Metragem do Pará, mas “Ervas e saberes da floresta”, de Zienhe Castro, que também teria sua pré-estreia, não aconteceu. Programada para a noite de encerramento do festival,  teve de ser adiada por problemas técnicos.

Esta foi apenas uma das dificuldades, que foram superadas na medida do possível, evitando que a edição deste ano fosse suspensa e acabasse por decretar o fim de mais um festival de cinema em Belém, como de fato já aconteceu com Mostra Curta Pará Cine Brasil, da Central Cinema e Video na Amazônia, e com Festival Brasilero de Cinema de Belém, emcabeçado pelo produtor Emanoel Freitas e pela atriz Dira Paes.  

Zienhe pediu desculpas pelo problema e comentou as dificuldades pelas quais a edição de 2012 do projeto passou. “O nome do festival esse ano é: ‘não é fácil, mas é possível’. Nós fizemos tudo em praticamente 30 dias. Não ia acontecer o Amazônia Doc este ano. As condições técnicas não eram as ideais. Mas nós decidimos fazer. Eu sou teimosa e acredito que vale a pena fazer cinema”, afirmou. 

“Céu, inferno e outras partes do corpo", animação
Com a equipe reduzida a dez pessoas, Zienhe teve de se desdobrar em outras funções para fazer a quarta edição do Amazônia Doc. 

“Este ano, além de diretora, realizadora, curadora, produtora, eu também sou apresentadora do Amazônia Doc”, comentaria ela durante um discurso de abertura da programação em que compartilhou desencantos, dificuldades e conquistas ao se fazer um festival de cinema.

Na edição enxuta e compacta, o festival deste ano teve duas mostras paralelas à mostra competitiva, um bate-papo sobre a obra de Nelson Rodrigues no cinema e oficinas de realização de microdocumentários em mídias móveis. Com orçamento modesto, o suficiente para ninguém passar vergonha. O objetivo era garantir, acima de tudo, a qualidade. E manter a essência de continuar viabilizando o acesso às centenas de produções que são feitas no Brasil e não têm espaço de exibição e difusão. 

“Você descobre muita coisa boa, que você nem sabe que existia e nunca vai ver em lugar nenhum, a não ser em um festival. É um mundo extraordinário”, comenta Zienhe. Mesmo competindo com atividades de ampla divulgação na cidade, como as celebridades literárias da XVI Feira Pan-Amazônica do Livro, o projeto não deixou de receber público, mesmo que bem mais reduzido, se comparado a outas edições. 

Cerca de mil e quinhentas pessoas prestigiaram o Amazônia Doc 4, que contou com o apoio cultural do Estúdio Ovelha Negra, Colégio Ideal, Distribuidora Estrela do Norte e Fox Vídeo. Para o ano que vem, Zienhe Castro carrega o mesmo desejo. “Que em 2013 seja possível realizar a edição de número 5!”.

Doc longa - "Carta para o Futuro", o grande premiado
PEMIADOS - Na tela, o documentário premiado pelo júri oficial e popular, é do carioca Renato Martins e apresenta quatro gerações de uma família cubana, que compartilha histórias, arquivos de vida, o cotidiano de limitações e as dúvidas e esperanças sobre o futuro. São sete anos que passam diante dos olhos, com personagens que cativam o espectador logo nos primeiros instantes. Gente que não tem uma vida fácil, mas não desistiu de torná-la possível. 

As escolhas do júri popular e júri oficial foram praticamente as mesmas em quase todas as categorias da premiação. O resultado foi divulgado no último domingo, 30, no Teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas. 

“Isso é difícil de acontecer. Nem sempre crítica e público concordam. Eu fico muito feliz quando isso acontece”, comentou Marco Antonio Moreira, presidente do Júri Oficial do Amazônia Doc, formado por membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Somente na categoria melhor curta de ficção que as opiniões mudaram. 

O júri oficial escolheu a produção peruana “Regreso”, de Jano Burmester. No filme, Pepe Zavala volta para Lima (Peru) depois de morar no estrangeiro com a família. Ele passa então a viver na casa dos pais, acomodando-a a seu gosto e deixando transparecer um homem estranho e solitário, um obsessivo compulsivo com a limpeza, ordem e perfeição. 

Roger Elarrat, diretor de Juliana contra o Jambeiro...
“É um filme que gente não teria condições de ver, que dificilmente chegaria aqui se não fosse o festival”, disse Marco Antonio. 

O júri popular escolheu “Juliana contra o Jambeiro do Diabo pelo coração de João Batista”, do paraense Roger Elarrat, como o melhor curta-metragem de ficção do festival. 

Roger agradeceu à organização do festival pela possibilidade de lançar o curta na abertura do Amazônia Doc e ao público que votou no trabalho. “É muito gratificante. Muitas vezes a gente não sabe o tipo de público que poderia atingir. É muito bom encontrar pessoas interessadas em conhecer o nosso trabalho”, comentou. 

Na categoria melhor curta de animação, “Céu, inferno e outras partes do corpo” foi eleita pelo público e pelo júri oficial. A animação que mostra com doses de ironia, bom-humor e toques de fossa, um cachorro que fica devastado após o término com a ex, uma cadela, e vida osso duro de roer que ele leva com o passar do tempo. 

O júri oficial ainda fez uma menção honrosa ao documentarista paraense Chico Carneiro, que mora há quase 30 anos em Moçambique e nunca deixou de filmar na Amazônia e fazer trabalhos sobre a região. “Pelo conjunto da obra, voltada para a temática de justiça social em documentários, cuja inspiração etnográfica investiga a identidade paraense e amazônida”, justificou Marco Antonio Moreira. 

Premiados

Júri Oficial
Melhor Filme – Carta para o futuro, de Renato Martins. 
Melhor curta ficção – Regreso, de Jano Burmester.
Melhor curta animação – Céu, inferno e outras partes do corpo, de Rodrigo John.
Menção Honrosa para Chico Carneiro 

Júri Popular
Melhor Filme – Carta para o futuro, de Renato Martins. 
Melhor curta ficção – Juliana contra o Jambeiro do Diabo pelo coração de João Batista, de Roger Elarrat 
Melhor curta animação – Céu, inferno e outras partes do corpo, de Rodrigo John.

(Holofote Virtual com informações da assessoria de imprensa do evento)

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