28.12.12

André Coruja: "show do La Pupuña é só por hoje"

Final de ano e todo mundo quer mais é se divertir, chacoalhar o corpo com boas energias nos últimos dias que antecedem a chegada de 2013. É com este espírito festivo que a sexta-feira, 28, nos traz, como fórmula irresistível, muito rock, merengue, surf music, brega e guitarrada.O La Pupuña, grupo formado por Adriano Sousa (bateria), André Coruja (baixo e vocais - foto), Diego Muralha (guitarra), Luiz Félix (guitarra e percussão), Rodolfo Santana (teclado) e Ytanaã Figueiredo (voz e percussão) está de volta, não pra ficar. É só por hoje. 

A banda, que fez um enorme sucesso na primeira década dos anos 2000, se apresenta no Café com Arte, espaço que tem se afirmado como reduto roqueiro de Belém do Pará, ao lado do grupo Suzana Flag, também surgido na mesma época, vindo da cidade de Castanhal, e que segue na ativa até hoje.

 “O La Pupuña só vai fazer esse show. As pessoas têm perguntado sobre volta, mas nós nunca falamos sobre isso”, afirma André Coruja em entrevista ao Holofote Virtual. Criada em 2004, a partir de um projeto de pesquisa sobre guitarrada, a música instrumental com sotaque paraense, o grupo La Pupuña foi um dos responsáveis pela renovação do ritmo, misturando batidas eletrônicas e ritmos latinos como a cúmbia e o zouk.

A estreia, nos palcos do Rec Beat, em Recife, teve plateia com cerca de cinco mil pessoas. Um ótimo começo para algo que surgiu sem muita pretensão.  O grupo seguiu em frente com shows no Porto Musical, também na capital pernambucana e no carnaval de Olinda. Esteve na 4ª Bienal de Arte e Cultura da UNE, Projeto Eletroacústico do Auditório Ibirapuera, SESC Pompéia e Terruá Pará, em São Paulo.

Em Brasília passou pela Feira da Música Independente (Foyer do Teatro Nacional), Senhor Festival (Sala Cássia Eller), Super Noites Senhor F (Gate’s Pub), Arena e Criolina (Bar do Calaf) e em terra carioca causou no Rio Scenarium. 

No Pará, um de seus momentos inesquecíveis foi o show do Festival Cultura de Verão, em Algodoal. A carreira contou ainda com apresentações em Fortaleza, Belo Horizonte, Goiânia, Cuiabá e conquistou fãs como Miranda, Kassin, Pena Smith, Los Hermanos, Wander Wildner, Otto e Mombojó. 

É trazendo na bagagem esta trajetória que a banda ousa voltar ao palco, ainda que só por esta noite. O Revival do Café com Arte custa R$ 25,00. Além das duas bandas, as pistas eletrônicas contarão com os DJs Roberto Figueiredo, Flávio Lima, Cláudia Oliveira, Lorena Lago, Marcelo Papel e o duo Friday Shout.

O baixista e vocal André Coruja, em Belém neste final de ano, bateu um papo com o blog e falou mais sobre o fim da banda , de seu momento fora do país, a carreira musical e, é claro, sobre a atual cena da música do Pará, que reverbera pelo Brasil. 

“Eu já tinha vontade de morar fora há bastante tempo. Havia estudado no Canadá e tinha planos de ir para lá. Mas foi só na Áustria que eu consegui um trabalho. Em três semanas, resolvi sair. O meu propósito não tinha um lugar específico. Eu só queria, simplesmente, sair e ver o que aconteceria”, disse Coruja ao Holofote Virtual.

Depois de viver um ano na Áustria e na Alemanha fazendo música, trabalhando de motorista, estudando composição de canções, aprendendo alemão, dando aulas de música, ele agora faz Mestrado em Jazz na Universidade de Évora, em Portugal.

Holofote Virtual:  O La Pupuña vinha trilhando uma  carreira invejável.  A banda acabou por causa da dispersão dos músicos? 

André Coruja: O La Pupuña teve um desgaste com o tempo. Acho que tivemos um início muito meteórico. Quando esse furor inicial passou, nós voltamos a dar atenção a certas coisas que havíamos abandonado para nos dedicarmos à banda. E houve uma dispersão, sim. Acho que foi o momento adequado.

Holofote Virtual:  E o que vocês pretendem apresentar no Revival  do Café com Arte? 

André Coruja: O Revival é uma festa do Café com Arte. Na semana passada, nós seis, da formação original, nos encontramos para confratenizarmos e surgiu a ideia de tocarmos na semana seguinte (agora). Conversei com o Roberto, do Café com Arte, que é um cara muito próximo, e ele falou que calharia perfeitamente com a última festa dele no ano: o Revival. O show vai ser, sinceramente, aquilo que a gente conseguir tocar no ensaio. Termos apenas um ensaio e vamos tocar aquilo que os seis lembrarem. Hehehe! É só diversão, mesmo. Um reencontro nosso e nosso com o público.

Holofote Virtual: Mesmo extinta, a banda lançou mais um CD recentemente. Este show tem algo a ver com isso também?

André Coruja: Em 2009, lançamos o disco "All Right,Penoso!", o resultado natural da musicalidade testada nesses tantos festivais e shows por aí. Foi o estabelecimento do La Pupuña como banda. Acho que ele tem cara de disco de banda, é bem cheio, bem "ao vivo", apesar de ser de estúdio.

Há um mês, saiu o nosso novo disco, o "Disco Avuadô". É mais enxuto e dialoga com outras influências, além de ser um disco temático. Mas o nosso show desta sexta não é um show de lançamento do disco.

Holofote Virtual: Quais os próximos planos na tua vida em relação à música?

André Coruja: Meus planos são o de continuar a minha carreira na Europa. Tenho duas bandas lá, uma em Munique (Alemanha) e outra em Évora, Portugal, onde moro agora. Lá eu sigo uma linha de cantor/compositor com um trabalho acústico com violoncelo, violino, piano e percussão. É um som elegante, leve, bem adequado ao clima frio, a ambientes fechados. E com uma pitada de música paraense. A mudança para Portugal também foi um reencontro com a língua portuguesa. Eu voltei a escrever em português e recuperei músicas antigas no meu repertório.

Holofote Virtual: Estás há mais ou menos um mês por aqui. Como tens viso esse movimento musical do Pará na cena nacional? É moda?

André Coruja: Eu acho muito divertido. Tudo que eu disser é clichê, mas penso que os clichês só o são por serem "verdades" legitimadas pela repetição: a música daqui é diferente, a energia é diferente, as pessoas têm música no corpo. É algo que felizmente herdamos dos africanos.

Acho que o mercado está se profissionalizando, mas ainda precisa caminhar bastante. A criatividade da música seria melhor aproveitada se existisse mais estrutura e se as coisas fossem feitas com mais seriedade, menos daquela "brodagem" que se aproveita, que conta vantagem. É ser profissional, enfim. Mas vejo esse processo acontecendo pelo esforço conjunto de muita gente. E a prova está aí para todo mundo ver.

Holofote Virtual: Ainda assim, La Pupuña não pretende voltar?

André Coruja: Particularmente, não vi essa pergunta nos olhos de nenhum de nós. Acho que as coisas estão bem resolvidas e vamos aproveitar bastante esse momento sem cobranças, nem maiores expectativas. O bom é que valoriza sobretudo o que estamos fazendo. É legal isso de pensar num show único. Apesar de não sabermos quais músicas tocaremos porque só teremos um ensaio, nós vamos mesmo dar o nosso melhor.

Nenhum comentário: