28.10.14

Vieira faz 80 com festa e novidades na carreira

Ícone de várias gerações de músicos paraenses, Mestre Vieira, história viva da nossa música, completa 80 anos, nesta quarta-feira, dia 29 de outubro. Em meio aos preparativos para a comemoração de seu aniversário, ele é um menino de 8, entusiasmado com a festa e as merecidas homenagens. 

Além de talentoso, ele é um querido, amado e respeitado por seu jeito simples de ser e por sua genialidade na guitarra. Por isso, não é supresa que a data que marca os 80 anos de Mestre Vieira seja comemorada em grande estilo.

E tem programação que inicia, dia 29 pela manhã, com o especial Mestre Vieira 80 anos, programa que será transmitido, ao vivo, direto do Estúdio Edgar Proença, de 10h às 10h50, pela Rádio Cultura do Pará. Na rádio, tem participação dos músicos Pio Lobato (Guitarra), Breno Oliveira  (baixo), Vovô (bateria), Daniel Serrão (teclado e sax) e JP (Percussão). DVDs dos 50 Anos de Guitarrada serão sorteados.

Depois é chegar em Barcarena (Pa), onde será realizada uma carreata pelas ruas da cidade, indo até a orla da cidade, onde estará montado o palco para o show, em que haverá show com participação de vários músicos e artistas. Há expectativa de participação do guitarrista Chimbinha, que ligou pro Mestre na semana passada dizendo que viria para as comemorações de seu aniversário! 

Tanta festa assim não são para menos. O criador da guitarrada, estilo musical que é fonte de inspiração para músicos de várias gerações e considerado um patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará,  começou tocando em festas em Barcarena e ficou conhecido pela população do município, situado na região nordeste do Estado. Depois ganhou o mundo, sem nunca ter deixado a cidade. 

Depois da longa trajetória com Vieira e Seu Conjunto e a participação no grui Mestres da Guitarrada, Mestre Vieira lançou o CD Guitarrada Magnética e começou a traçar novos rumos em sua trajetória, com banda própria e agendas a vista. Desde que iniciamos nossa parceria, em 2008, finalmente os projetos começam a vir a tona. O show Mestre Vieira e Seu Conjunto já está selecionado para participar do Porto Musical, um evento internacional de música que acontecerá em fevereiro do que vem, em Recife.  O próximo CD também já está a caminho. Intitulado “Guitarreiro do Mundo”, novo trabalho será lançado no primeiro semestre de 2015.

Enquanto isso, seguimos  divulgando o DVD comemorativo aos 50 anos de guitarrada, gravado ao vivo em duas noites de shows no Theatro da Paz, em 2012.  Vários artistas fizeram participações: Luis Pardal, Lia Sophia, Gaby Amarantos, Felipe Cordeiro, Manoel Cordeiro, Sebastião Tapajós, Fernando Catatau, Luiz Pardal, Paulo Moura e Trio Manari. Em novembro deste ano, ele cumpre agenda em Curitiba, pelo projeto Caixa Cultural, como convidado de Dona Odete, outra figura ímpar da nossa música. As apresentações são nos dias 14, 15 e 16. 

Mais detalhes desta trajetória 

Joaquim de Lima Vieira nasceu em outubro de 1934, em Barcarena. Filho dos agricultores Zacarias Pinto Vieira e de Sofia Rosa de Lima, ele cresceu maravilhado com a natureza, à beira do rio, onde deu os primeiros acordes, já aos cinco anos de idade.

Para tocar de verdade, porém, ele precisou da autorização do pai, um português que não tolerava samba ou qualquer tipo de batuque, mas que se encantava com o Fado, música de sua terra. Foi então que o menino Joaquim resolveu tocar bandolim e já aos 15 anos ganhou um concurso de choro na Rádio Clube do Pará, com uma composição autoral intitulada “Te Agasalho”, e nunca mais parou de tocar ou de se dedicar à música.

A guitarrada tem sido referência. O ritmo, contagiante, dita tendências desde o final os 1970. Em 1978, Mestre Vieira foi reconhecido como criador da lambada. Gravou o clássico e pioneiro disco de sua carreira: Lambada das Quebradas,  gravado em dois canais. São vendidas 80 mil cópias.

O sucesso seguiu com “Lambada das Quebradas volume 2″ – outro sucesso, com destaque para as músicas “Melô do Bode” e “Lambada do Rei”. Foram vendidas 230 mil cópias do disco. Sucesso total obtido com shows em turnê pelo nordeste, em cidades do Ceara e Recife.

Entre 1992 e 2000, depois de passar por algum tempo longe da mídia, Mestre Vieira volta à cena com “Os Mestres da Guitarrada”, ao lado de Mestre Curica e Aldo Sena, projeto da Funtelpa em parceria com o guitarrista Pio Lobato.

A fase de grande repercussão privilegiou, acertadamente, as composições instrumentais, reforçando o status de guitarreiro do artista e afirmando-lhe o título de criador da guitarrada que, àquela altura, já ecoava pelo país, enquanto uma nova geração de guitarristas também passava a beber nesta fonte.

História de baleia dá origem ao primeiro sucesso 

04 de agosto de 1974. Um fato inusitado acontecido nesta data na pequena cidade de Barcarena, situada no nordeste do Pará, marcaria para sempre a cultura do município e daria início a uma carreira ímpar na história da música brasileira.

Foi a história da morte de uma baleia que se perdeu de sua rota no mar e foi parar em águas doces, passando dias se debatendo nas águas do rio Murucupi, assustando pescadores e moradores ribeirinhos, que deu origem a letra e música que marcaria definitivamente a carreira de Mestre Vieira.

A “Lambada da Baleia” foi o grande sucesso do primeiro LP do grupo “Vieira Seu Conjunto”, feita ainda em 1974, logo depois dos dias que agitaram o município por causa da baleia perdida. Com seus ossos até hoje mantidos na secretaria de cultura de Barcarena, o mamífero aquático se tornou lenda, eternizada na letra que Mestre Vieira compôs retratando aquela situação. Sucesso absoluto em Barcarena, nas festas promovidas por Vieira e Seu Conjunto, a música foi gravada no primeiro LP de Vieira e Seu Conjunto, o “Lambada das Quebradas”, lançado em 1979. 

O LP vendeu milhares de cópias e levou o grupo a gravar o segundo disco, em 1980, trazendo mais um grande sucesso, chamado “Melô do Bode”. Estourado no nordeste, com suas músicas tocadas em todas as rádios do Ceará, primeiramente, o grupo não tinha ideia de quanto eram admirados pelo público nordestino. Foi um espanto geral quando Vieira e seus músicos chegaram a Fortaleza, onde foram idolatrados por um grande público que lotava as casas onde aconteciam as apresentações. 

Foram quase duzentos shows realizados. No entanto, após as apresentações já em Recife, Joaquim Vieira resolveu voltar ao Pará, desistindo de seguir em frente com os shows. Passando por várias gravadoras, além da extinta Continental, o grupo produziu 14 LPs.

Depois disso, Vieira passou oculto por uma década inteira sem tocar para um grande público. A lambada, porém estava em alta na mídia, provocando polêmica na imprensa sobre quem teria sido o verdadeiro criador do ritmo. Quase todas as reportagens veiculadas na época, e que fizeram parte da pesquisa para o documentário “Coisa Maravilha”,  consta o nome de Mestre Vieira como o criador do ritmo. Ainda assim, naquela época, ele ficou recolhido em Barcarena.

Durante dez anos, pouco se ouviu falar nele, pelo menos na capital, mas seus discos foram parar na Europa, levados inicialmente por um padre italiano que tomava conta da comunidade religiosa da cidade e que foi seu instrutor em técnica de eletrônica. Graças a este aprendizado, aliás, é que ele construiu, a partir de uma rádio de pilha e bateria de caminhão, o amplificador que daria voz a sua guitarra, tocada inicialmente com cordas de violão. E Vieira acabou ganhando repercussão no Velho Mundo, mas o fato não melhorou sua vida financeira, o músico continuou buscando a sobrevivência com a música, mas esquecido no interior do estado.

Vieira e novos rumos na carreira

No início dos anos 2000, porém, o jogo vira e a cena positivamente para Vieira, que passou a ser chamado e reconhecido como Mestre da Guitarrada. Hermano Vianna, que nos anos 90 conheceu seu trabalho através de um LP de Vieira encontrado num sebo em Manaus, veio a Belém para entrevistar Mestre Vieirapara o projeto de mapeamento das sonoridades da música brasileira, o Música do Brasil.

Junto a isso, surge o guitarrista Pio Lobato, na época estudante de música que preparava seu TCC sobre as guitarradas paraenses. O encontro entre os dois fez surgir o projeto Mestres da Guitarrada, que em parceria com a Funtelpa – Fundação de Telecomunicações do Pará -  fortalece o repertório instrumental de Mestre Vieira.

Até mais ou menos 2006, com a formação original que reunia, além de Vieira, o guitarrista Aldo Sena, o mais puro discípulo de Mestre Vieira, e Mestre Curica, que tocava banjo ao lado dos dois guitarristas, foram realizados inúmeros shows. Pode-se dizer que foi a partir daí que toda esta nova cena da música paraense ganhou contornos concretos e viáveis para estar como está hoje reconhecida. Depois da primeira formação, o projeto Mestres da Guitarrada continuou, com Mestre Vieira, com Pio Lobato na guitarra base, o baterista Vovô, o percussionista Octávio Gorayeb e o baixista Breno Oliveira.

O projeto Mestre Vieira - 50 Anos de Guitarrada surgiu em 2008. Na casa de Mestre Vieira, após uma longa conversa com ele, e conhecer mais sobre sua história, não restou dúvida de que era necessário realizar o projeto, que foi intitulado “Mestre Vieira – 50 Anos de Guitarrada”. Já estão lançados o DVD e o site – www.mestrevieira.com.br.

Seguimos em curso até o lançamento do documentário “Coisa Maravilha”, que narra, através de encontros musicais e imersões na floresta, a trajetória de Mestre Vieira. O trabalho envolveu muita gente apaixonada pelo trabalho de Mestre Vieira, é em seu total, uma obra coletiva e de grande força.

Depois de algumas congeladas no processo, o documentário deve ser finalizado para lançamento em 2015. A ideia principal do projeto foi trazer à tona sua trajetória, valorizando toda a sua carreira e sua história de vida. Desenvolvido com o patrocínio do Programa Conexão Vivo, via Lei Semear do Governo do Estado, mais do que um projeto, a iniciativa, que teve também apoio de muitos amigos, colocou para sempre Mestre Vieira em nossas vidas.



A genialidade da guitarrada de Mestre Vieira também está na trilha sonora do filme "Serra Pelada", que esteve nos cinemas ano passado e foi exibido em janeiro de 2014, em seriado, na TV Globo. "Duas Línguas" e "Lambada do Rei", um grande sucesso, entraram para a trilha.

Os Dinâmicos, um achado maravilha!

Durante as pesquisas para a realização do documentário, encontramos os músicos que gravaram os primeiros discos, que ficou conhecido como Vieira e seu Conjunto. Dejacir Magno, Lauro Honório, Luis Poça e Hidalgino Cabral sempre estiveram em Barcarena, trabalhando em outras áreas, sem nunca terem perdido a paixão pela música e nem as lembranças do passado vivido em Vieira e seu Conjunto.

Eles estavam sem tocar juntos há 37 anos. O encontro, testemunhado pela equipe do documentário e que em breve será vista pelo público, gerou grande emoção. Ao reuni-los para a entrevista, munidos de seus instrumentos, eles tocaram juntos e como num passe de mágica. Percebemos que eles poderiam fazer mais que isso. É quando surge o primeiro desdobramento dentro do projeto, ao montarmos o show, que estreou no Festival Se Rasgum (2011), e que faz parte também do documentário. 

Além de reunir os músicos da velha guarda, o show também resgatou o lado letrista de Mestre Vieira. Surge então o grupo Mestre Vieira e Os Dinâmicos, nome que o grupo tinha antes mesmo de se tornar o Vieira e Seu Conjunto. O projeto mexeu em suas vidas, lhes dando o reconhecimento que Mestre Vieira já havia conquistado, além de resgatar a cidade e um pouco de sua história cultural marcada pela sua produção musical, como berço da guitarrada e da lambada. 

Para saber mais, acesse:

http://vimeo.com/user11034914
https://www.facebook.com/mestrevieirapa

Fotos desta postagem:
Renato Chalu (DVD 50 Anos)
Renato Reis (Documentário Coisa Maravilha)
Holofote Virtual


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