8.5.15

Psicanálise e arte no debate em "Camille Claudel"

Ensaio de Ceronha, já  no Teatro Cláudio Barradas (PA)
O espetáculo estreia nesta sexta-feira (8), no Teatro Cláudio Barradas, e fica em cartaz até amanhã (9), sempre a partir das 20h. Hoje, após a apresentação haverá bate papo sobre arte e loucura, com participação da psicanalista Lia Navegantes e do ator e performer Nando Lima, no Teatro Cláudio Barradas. Em cena, a atriz Ceronha Pontes (CE/PE).

A intérprete e autora da dramaturgia, Ceronha Pontes modela uma Camille Claudel que aos poucos vai se desgastando pelos anos de reclusão forçada e abandono no manicômio, amargurada pelo pouco crédito que lhe deu a sociedade francesa de sua época, e ressentida com o Auguste Rodin, que não a assumiu como mulher, nem a defendeu quando a acusaram de copiar a arte do mentor.

Filha, de fato, de uma escultora, Ceronha percorre a densidade de suas memórias afetivas para exprimir com rigor de artesão a vida da mulher que viveu à sombra do escultor. Na narrativa, três tempos ficcionais se cruzam: o hospício onde Camille ficou internada pelos últimos 30 anos de sua vida, mais por sua genialidade incompreendida e severamente reprimida que por qualquer psicose diagnosticada, seu ateliê e o “inferno de Dante”, a obra que Rodin esculpia quando conheceu Camille como aluna e a tomou como amante. 

Sobre artistas e loucos...

Depois da apresentação do espetáculo, nesta sexta-feira, 8, o público será convidado a ficar mais um pouco para bater um papo com a atriz Ceronha Pontes. O ator e performer Nando Lima é um dos convidados a interagir no debate, que será norteado pela história de Camille Claudel, sobre arte e loucura.

"Conversar sobre teatro é sempre bom; é uma obsessão? Talvez essa seja uma questão louca, ir para uma sala e entregar-se ao devaneio, as questões propostas por uma atriz que por sua vez busca na genialidade de outra mulher-personagem, questões sempre atuais sobre arte e insanidade. Isso me motiva", comentou o performer, também cenógrafo, e proprietário do Estúdio Reator, em Belém. Ele diz que muitos são os reflexos e projeções possíveis à respeito do assunto arte a loucura. 

"Quero ver o que a atriz Ceronha Pontes realiza. O que ela propõe dentro desse universo, posto que toda arte está sempre no limiar, ou para além das realidades, existindo e nutrindo-se desse paradoxo, entre as coisas que são palpáveis, os fatos; e os desejos, as vontades, e as energias das emoções e entregas, posto que falamos de teatro, do ato presente, do humano diante do humano. Esse território gerador de potências, que discute a realidade, e que põe a prova o ser e o não ser, é o que me traz para essa arena", conclui.

Para Ceronha Pontes, os debates que vem sendo realizados por onde passa a espetáculo, são sempre enriquecedores. “Esse assunto não se esgota. A arte e a loucura se avizinham na medida em que são modos diferentes e quase sempre incômodos de enxergar e exercer a realidade. Camille traz essa discussão, sobretudo porque sua internação foi uma perversidade. Um diagnóstico duvidoso, uma sentença cruel. Na verdade ela foi punida por causa de sua genialidade. Desafiava todas as convenções e impunha sua arte revolucionária numa época em que gênios de saia não eram bem-vindos”, comenta a atriz

O olhar da psicanálise

Também será convidada ao debate a psicanalista Lia Navegante, que é membro da Associação Lacaniana Internacional. Para ela, entre as formas de expressão mais importantes do ser humano está justamente a arte, seja ela, literatura, música, cinema, teatro, fotografia.

“A psicanálise de Freud sempre se interessou pela arte, seja pra analisar as obras, que estão em questão, seja para compreender o processo de criação do artista, seja para ter algum acesso sobre o autor da obra. Além disso, participar deste debate me parece especialmente importante, por ser uma iniciativa maravilhosa  submeter um debate entre vários discursos, após a apresentação em si”, diz Lia.

A psicanalista trabalha em alguns cursos de transmissão de psicanálise, e atende crianças bem pequenas, de 1 e 2 anos, até adultos, passando pela adolescência nos mais diversos quadros de sofrimentos. Mas em relação à arte e a loucura, Lia acredita que toda expressão artística passa por uma manifestação própria do inconsciente e o tema do espetáculo está exatamente ligado ao impasse das angústias que permeiam o ser humano. E este é o cerne do analista”, comenta.

Lia Navegantes também chama atenção para o fato de que essa aproximação entre arte e loucura sempre existiu. Ela diz que há sempre esta comparação. “Mas se você me perguntar se todos os artistas são loucos, eu digo que não, os artistas não necessariamente são loucos, mas sem dúvida que são muito criativos. E tal qual o louco, o artista está aprisionado em seu universo. Ambos estão tomados por uma série de percepções, como se fossem pequenas amostras daquilo que nem sempre conseguem comunicar”, chama atenção.

“No caso do artista, estas percepções incomunicáveis estão nas telas, no escritos, mas são apenas fragmentos de um universo particular. O louco pode ser criativo, especialmente se a nossa cultura permitir que esta verdade e criatividade possa vir à tona”, finaliza.

Ficha Técnica
Espetáculo: Camille Claudel
Gênero: Drama (indicação: a partir de 16 anos)
Dramaturgia, Direção e Atuação: Ceronha Pontes
Cenário
Concepção : Yuri Yamamoto
Confecção: Yuri Yamamoto, Ceronha Pontes, Gustavo Araújo e Sr. Isaque.
Concepção de Iluminação: Walter Façanha
Operação de luz: Sávio Uchôa
Sonoplastia: Ceronha Pontes
Operação de som: Tadeu Gondim
Figurino: Ceronha Pontes
Orientação: Marcondes Lima
Confecção de figurino: Maria Lima e Antônia Castro
Coordenação de produção: Tadeu Gondim e Ceronha Pontes.
Produção e comunicação/Belém: Três - Cultura Produção Comunicação
Assistência de Produção/Belém: Cristina Pessôa e Thiago Ferradaes
Realização: MC Apoio
Incentivo: Funarte e Governo Federal – através do Prêmio Miryam Muniz de Circulação 2014
Apoio: Teatro Cláudio Barradas | Restaurante Dona Joana| Hotel Grão Pará | Blog Holofote Virtual | Funtelpa.

Serviço
Espetáculo “Camille Claudel”, com Ceronha Pontes (Recife-PE). Dias 8 e 9 de maio, às 20h, no Teatro Cláudio Barradas. Ingresso: R$ 20,00 (R$ 10,00 meia). Mais informações: 91 98134.7719. Apoio local: Hotel Grão Pará, Funtelpa, blog Holofote Virtual, Restaurante Dona Joana e Teatro Cláudio Barradas.

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