24.8.15

17 anos de itinerância e intercâmbio cultural

"Mercedes", no Teatro Experimental Waldemar Henrique. Ao
fundo, com  a bengala, o diretor paraense, Cláudio Barradas.
À esquerda da foto (Diogo Vasconcelos),  Sérgio Bacelar.
Fôlego, método e   paixão. Foi assim que o Festival do Teatro Brasileiro surgiu, há 17 anos, em Brasília. Em agosto de 2015, iniciou circulação com a cena paraibana, pelo Pará. Chegou, hoje (24), no CearáVai seguir pra Alagoas e Espírito Santo. O idealizado, Sérgio Bacelar, bateu um papo com o blog.

Ele conta que o Festival do Teatro Brasileiro começou pequeno e nem tinha este nome. Hoje o projeto se expande levando a produção teatral de um estado ao outro, possibilitando troca, intercâmbio, gerando inúmeras conexões e, sobretudo, cada vez mais estimulando a criação teatral no país, ao adentrar em escolas e no universo da arte educação. 

No Pará, mais de 14 mil pessoas participaram, se emocionaram, trocaram impressões sobre a cultura paraense e a cultura paraibana. Foram dias (04 a 15 de agosto) de intenso aprendizado, encontros, reencontros. 

A circulação exige foco, afinal é preciso recomeçar, montar nova equipe, reconhecer novos espaços, novos parceiros, interagir com a imprensa, com a mídia a fim de garantir público, em cada cidade que chega. Ao todo é como se fossem seis pequenos festivais, já que em cada estado, a programação chega a dois municípios. 

Aplausos: final da segunda apresentação de "Como Nasce um 
Cabra da Peste", no Teatro Margarida Schivasappa. 
Foto: Diana Figueroa

Quem um sonho não dança, já dizia Cazuza. E também não cansa. No dia 15 de agosto, no sábado de enceramento do festival em Belém, Sérgio Bacelar ainda tinha fôlego para estar com artistas e produtores culturais, na Casa das Artes, onde ministrou uma oficina de formatação de projetos. Compartilhou sua experiência de 20 anos de atuação na idealização e captação de projetos.

Sérgio falou sobre a questão da competitividade dos projetos e da atenção nas interpretações dos editais. “Eu sempre fui muito sintonizado com as políticas públicas pra cultura. E isso fez com que tornasse os meus projetos mais competitivos para participar desses editais, por outro lado eu também já compus comissões de seleção de editais de empresas públicas e privadas, então eu também conheço este outro lado”, disse.

A gerente de Patrocínio da Petrobrás,  pela BR Distribuidora de Cultura, que patrocina a itinerância do festival, Alena Alóe, estava presente. “Achamos que era fundamental a presença da gerente de patrocínio da Petrobras Distribuidora, para este contato direto com os grupos de teatro do Pará. Eles têm um edital muito rico, de R$ 15 milhões, só para projetos de circulação de espetáculos, mas o Pará tem participado pouco. Por isso, não exitamos em convidá-la, foi uma chance de trazer as pessoas daqui para mais perto dessa grande oportunidade”, chamou atenção.

Nascido no interior do Maranhão, Sérgio Bacelar se mudou ainda criança com a família para o Distrito Federal, onde cursou direito, mas que logo largou, antes mesmo de terminar o curso. Assim, Sérgio Bacelar mudou o rumo da conversa. Até dar início a este festival no formato que tem, porém, muitos foram os caminhos percorridos. 

Sérgio Bacelar / Foto: Divulgação
Holofote Virtual: Como foi esta desistência do Direito e como você chegou às atividades culturais?

Sérgio Bacelar: Percebi que não era ali que eu queria estar. Fui pra iniciativa privada, abri um bar, que chamava Caderno 2, porque tinha um forte argumento cultural. Lá eu comecei a produzir, tínhamos um pequeno palco e recebíamos os artistas da cidade, nos diferentes segmentos das artes e eu fui então me aproximando da produção de shows, de espetáculos. A formação em Direito acabou sendo útil. Isso me facilita muito desenvolver os projetos, e acompanhar e a entender as Leis de Incentivo.

Holofote Virtual: O festival não nasceu itinerante. Como você chegou a este formato? 

Esparrela, no Teatro Waldemr Henrique. Duas noites com a 
plateia lotada./ Foto: Diogo Vasconcelos.
Sérgio Bacelar: Eu vinha produzindo no Distrito Federal, o teatro baiano, ali nos meados dos anos 1990 e no final dos anos 90, quando a Lei Federal de Incentivo começou a ter uma projeção maior, e os centros culturais  começaram a editalizar os seus recursos, suas pautas, então eu apresentei esse primeiro projeto, que se chamou, Mostra de Teatro da Bahia. Um projeto pequeno, com três espetáculos, naquele ano era só uma apreciação dos espetáculos. 

Deu tudo muito certo, a gente fez a segunda edição, isso dentro da Caixa Cultural, mas a Caixa fechou pra reforma, o teatro fechou pra reforma. Foi também quando notei que esse projeto tava dando certo, satisfazendo o público, a mídia, o patrocinador.  Naquele ano, o chamei de Festival do Teatro Brasileiro, mas para que eu pudesse trazer outras cenas pro Distrito Federal. 

A terceira edição do projeto, sendo a primeira com o nome de Festival do Teatro Brasileiro, aconteceu em 2002, quando trouxemos a cena de Pernambuco, depois a cena Mineira. O projeto havia atingido então um grau de maturidade, incorporando em suas ações, oficinas e apresentações de rua.

A parte itinerante do projeto, o perfil nômade, cigano do projeto, começa em 2007, quando a gente faz a Cena Mineira no Rio de Janeiro. Observamos que aqueles mesmos resultados que tínhamos no Distrito Federal, conseguíamos obter também no Rio de Janeiro. E ali ficou claro que ele tinha esse perfil cigano. A partir daí seguimos pro Nordeste. Foi assim que essa ideia nasceu. 

Residência Artística, com o Garalhufas/ Foto: Diana Figueroa
Holofote Virtual: Estar em Brasília ajudou a pensar nesta possibilidade de circulação artística?

Sérgio Bacelar: Tem uma produtora em Belo Horizonte que me  diz ‘nossa, Sergio, você tinha que estar no Distrito Federal, no centro do país, pra pensar um projeto desse, que levasse espetáculos de um estado pro outro’. Bem, eu acho que é isso mesmo. Estar em Brasília contribuiu pra que eu pensasse nessa possibilidade de levar espetáculos para diferentes estados.

Holofote Virtual: Quatro estados, oito cidades. Como é que vocês organizam tudo isso, praticamente ao mesmo tempo?

Sérgio Bacelar: Para fazer isso, ao longo desses anos, precisamos desenvolver metodologias,  que são então aplicadas e transferidas para as equipes locais. Então apesar da dificuldade, o trabalho se torna possível. Afinal são quase oito pequenos festivais (em cada estado, duas cidades o recebem), que fazemos na sequência. Além disso, chegar numa nova praça, novo estado, nos estimula muito, pra entender o que esta sendo acontecendo em cada cidade, o que vem sendo produzido na cena desse estado e quando este Estado poderá, se tiver interesse, compor a programação do festival.

Holofote Virtual: Depois do Pará e do Ceará, ainda há Alagoas e Espírito Santo. Quantos espetáculos, ao todo, circulam com o festival, nesta edição da cena paraibana?

"Como Nasce um Cabra da Peste" / Foto: Diogo Vasconcelos
Sérgio Bacelar: Estamos apresentando, ao todo, 12 espetáculos, de 11 diferentes companhias. Mas nem todos circulam em todas as cidades. O Pará, por exemplo, recebeu cinco dessas companhias. Nessa programação do Pará, a gente destaca a produção de várias gerações do teatro paraibano. 

Então tem a turma mais jovem, que é o Ser Tão Teatro, com o espetáculo Flor de Macambira; tem o Luis Carlos Vasconcelos, de outra geração, um pouco mais velha, com o Silêncio Total, e temos ainda o Fernando Teixeira, com o Esparrela, mostrando também essa geração mais velha, assim como a turma do Cabra da Peste, da gang de Palhaços da Paraíba. Talvez este conjunto seja o maior destaque dentro da programação no Pará, que mostrou o que várias gerações do teatro paraibano estão produzindo.

Holofote Virtual: Qual o legado que deixa o Festival do Teatro Brasileiro, por onde ele passa?

Sérgio Bacelar: O festival deixa legado material e imaterial. Nossa proposta é fortalecer e criar elos profissionais, pessoais. Ao longo de 17 edições são muitos os frutos gerados, espetáculos montados, intercâmbios, pessoas que mudaram de residência, pessoas que se encontraram. Enfim, isso deixa muitos frutos sim.

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