29.12.15

Grande festa para os 90 anos de Mestre Laurentino

Ele muda de idade daqui a três dias, mas a festa, com participação de vários artistas, será no dia 10 de janeiro, no bar Mormaço, à beira do rio, ambiente que lhe remete ao local de nascimento, no dia 1º de janeiro de 1926, em Ponta de Pedras, na ilha do Marajó. A homenagem é merecida e terá renda destinada a ele mesmo, como presente. Ingressos R$ 20 (antecipados) e R$ 30,00 (bilheteria).

O roqueiro mais velho do Brasil em atividade é paraense. O carioca Serguei reinvindica o título pra ele, mas nasceu quase 10 anos depois, em 1933. Em nove décadas de histórias para contar, Laurentino coleciona viagens, amores, muitos filhos e cachorros, além da gaita, instrumento que lhe marca a carreira artística e que aliás foi  um dos motivos para realizar esta festança.

"A ideia de fazer o aniversário dele partiu de uma vontade de presentear o mestre com uma gaita, em um bate-papo no camarim. Apaixonados que somos pelo mestre, queríamos fazer algo para ajudá-lo, pois estava sem seu instrumento preferido. Ao longo da conversa, descobrimos outras necessidades e que seu aniversário estaria bem próximo, resolvemos, então, fazer uma festa para ele e ajudá-lo com parte da arrecadação da venda dos ingressos", conta Renata, que está produzindo o evento, com o produtor Taca Nunes.

A cantora explica que convidou alguns artistas e logo a notícia da homenagem se espalhou. Resultado: o que, a princípio, seria um pequeno evento para comprar uma gaita, transformou-se na produção de uma super festa com vinte artistas no palco rendendo homenagens a ele.

A festa reunirá entre outros artistas, Félix Robatto, Renata Del Pinho, Gláfira, Joelma Kláudia, Edilson Moreno, Juca Culatra, Keila Gentil, Lia Sophia, Manoel Cordeiro e Los Picoteiros, Mg Calibre, Nicobates e os amadores, Nilson Chaves, Pedrinho Callado, Pedro Vianna, Pelé do Manifesto, Quaderna e Banda Strobo e Dona ONete, que já havia realizado em setembro, deste ano, um bingo um bingo dançante no bairro da Pedreira, também com participação de vários artistas.

Neto de escravos, João Laurentino da Silva, aos quatro anos, foi adotado por um juiz de direito chamado Francisco da Costa Palmeira. Estudou até a quinta série e comprou sua primeira gaita aos 18 anos. Trabalhou na roça, na extração de madeira e ainda como técnico de manutenção de aviões.  Na década de 1970, compõe “Lourinha Americana” e nos anos 1990 era comum ve-lo na plateia de shows que eram realizados pelas praças de Belém.

O hit foi gravado em 2000, por Gilberto Gil, e pela banda pernambucana Mundo Livre S/A, no CD “Por pouco”. Entre outras composições de Laurentino, estão ainda “Nega Mise-en-Plis”, "Aroeira" e "Vale de São Fernando". 

Ele costuma dizer que não compõe ritmos tradicionais do Pará. “Minha música é jazz, fox, rock, bolero, valsa, mazurca", já declarou o músico em inúmeras entrevistas concedidas à imprensa.

Em 2002, ao participar de um festival de música realizado no Mercado de São Brás, em Belém, ele encontra com o Coletivo Rádio Cipó, banda com a qual gravou o primeiro registro de suas canções, no disco "Rádio Cipó". 

Em 2011, foi a vez dele ter uma banda própria, que surge no projeto idealizado por Beto Fares, intitulado "Laurentino e Os Cascudos", que reuniu roqueiros mais jovens e teve até CD lançado, em 2014. Antes e depois disso, o mestre já passou por incontáveis programas de auditórios nas emissoras de rádio e TVs locais e nacionais. Em 2013, foi um dos entrevistados de Charles Gavin no programa Brasil Adentro e, recentemente ele foi tema de um dos episódios Visceral Brasil, exibido pela TV Brasil.

Cultura paraense: cuidado com nossos Mestres

Desde 2009, porém, que ele passa por tratamentos de saúde. Em abril de 2014, chegou a ser internado com quadro de pneumonia, em Belém. E embora ele continue a ser festejado no meio artístico, tem tido pouco trabalho por causa da situação da saúde, que se agrava com a idade. 

A festa de aniversário de 90 anos além de um apelo social é ainda um forte chamado para a exaltação da cultura local que conta ainda com muitos outros mestres, como a própria Dona Onete, Mestre Vieira, que atualmente passa por tratamento de saúde na coluna, Mestre Solano, guitarrista como Vieira, e tantos outros ícones da nossa cultura. 

"Nossa história deve ser recontada sempre para que as futuras gerações nunca esqueçam sua origem, sua identidade. Aprender, respeitar e reverenciar os mais velhos deve ser uma prática constante. O Mestre tem muito a nos ensinar e muito a ser aplaudido. E, apesar da idade avançada e da saúde fragilizada, ainda há muita vontade de subir nos palcos e tocar sua gaita, que é sua maior paixão", diz Renata Del Pinho. 

E enquanto o poder público e as instutições não tratam com seriedade os nossos Mestres, a fim de mantê-los na ativa e repassando seus conhecimentos tradicionais, os próprios artistas é que cuidam uns dos outros. Salve a cultura paraense!

Serviço
90 anos de Mestre Laurentino - Show-homenagem . No domingo, 10 de janeiro de 2016, a partir das 14h, no Mormaço - Passagem Carneiro da Rocha, 1 - Cidade Velha. Ingressos: R$ 20,00 - antecipados - à venda na Loja Ná Figueredo ou R$ 30,00, na bilheteria.  Informações gerais: (91) 9 98247668.

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