12.2.16

Cia AfroMundi traz suas obras premiadas a Belém

Desenvolvendo a dança afro-contemporânea e amazônica, a companhia nos apresentará os espetáculos de dança "Lágrimas Secas" e "Nascente em Chamas", um seguido do outro, com pequeno intervalo entre eles, hoje (12) e amanhã (13), no SESC Boulevard, sempre às 19h - Av. Castilhos França, 522. Informações: (91) 3224-5654.

A AfroMundi, que já se apresentou em várias capitais do país, na Colômbia e nos EUA, é uma das frentes do projeto "Rios de Encontro", que, desde 2009 vem desenvolvendo um trabalho social na comunidade ribeirinha afro-descendente Cabelo Seco, na ponta entre os Rios Tocantins e Itacaiúnas, na cidade amazônica de Marabá, que sofre o terceiro maior índice de violência no país. 

Afirmando excelência artística, ação comunitária e colaboração internacional para advogar direitos humanos e cuidado eco-social em defesa de uma Amazônia sustentável, o projeto "Rios de Encontro" tem coordenação artística de Dan Baron, dramaturgo, teórico cultural e arte-educador inglês, que vive há muito anos no Brasil, desenvolvendo trabalhos nesta área, e é formado por jovens gestores inseridos em micro-projetos artístico-culturais da comunidade Cabelo Seco, apoiados por um núcleo gestor de suas mães produtoras na sua Casinha de Cultura. A gestão cultural do projeto é de Manoela Souza.

O "Rios de Encontro" tem, hoje, em seu repertório, o grupo musical Latinhas de Quintal, o projeto de jornalismo social Nem Um Pingo; o coletivo audiovisual Rabeta Videos, um Cine Coruja, Folhas da Vida: bibliotecas familiares e pela Cia  AfroMundi Pés no Chão, cujas apresentações de hoje (12) e amanhã (13) se tornam uma oportunidade única de ver de perto como a arte é um fator irreversivel de transformação social e ambiental.

O solo "Nascente em Chamas", que será mostrado nesta sexta-feira, teve estreia aqui mesmo, com a dançarina fundadora da AfroMundi, Camylla Alves, no final do 2015. A apresentação foi realizada com o Prêmio "Projetos Artísticos 2015", do Programa de Incentivo à Arte e à Cultura (SEIVA), da Fundação Cultural do Estado do Pará.

O espetáculo dialoga sobre a tragédia ecológica e social em Mariana, Minas Gerais. Após a recente classificação do rompimento das barragens como a pior catástrofe na história da mineração no mundo, e o deslizamento de mais lama em Mariana no dia 27 de janeiro, 'Nascente em Chamas' vem se tornando símbolo pela preocupação mundial sobre o futuro do planeta.

"Nascente em Chamas" dramatiza a noite quando a dançarina Mariana volta ao seu bairro 'revitalizado', e perdida, desce à margem do Rio Tocantins e cai num vinco de memória profunda na Orla. Vivencia a história feminina oculta da violação da Amazônia e começa entender o descuido, medo e silêncio do presente. Lutando para respirar nas fumaças da seca, Mariana se alivia no rio tóxico e contaminado, se transforma em uma alerta poético mundial. "Inspirado por artistas africanos e lendas amazônicas, o espetáculo relaciona a cicatrização do povo afro-descendente com a proteção dos rios amazônicos.

Já o "Lágrimas Secas ', amanhã, foi lançado também no ano passado numa balsa no Rio Tocantins durante o IV Festival Beleza Amazônica,  com  Camylla Alves, Lorena Melissa e João Paulo Souza, e recebe sua primeira temporada em Belém. 

"No espetáculo, nossa vida e as lendas do rio pegam fogo", explica Dan Baron, diretor artístico de AfroMundi. "Tudo seca, até a própria nascente. Buscamos situações extremas e poéticas para estimular nossas plateias reconhecerem sua realidade cotidiana que muitos pensam não podem transformar." Com 'Lágrimas Secas', AfroMundi foi contemplada com prêmio 'Novos Talentos 2014' da Funarte, do Ministério da Cultura.

A coragem da Cia AfroMundi de tratar questões sensíveis, a perda de comunidade e do equilíbrio ecológico, vem inspirando outros países se solidarizarem com a preservação da Amazônia e vislumbrar bairros excluídos como fontes de sabedoria e transformação social a partir da cultura popular. Depois de Belém, Camylla Alves e Dan Baron levarão 'Nascente em Chamas' e darão oficinas eco-culturais na China e em Nova Zelândia no mês de Abril.

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