26.5.16

Uma Catarse para realizar o novo EP e videoclipe

A REPUBLICA IMPERIAL” está em campanha para captação de recursos via sistema crowdfunding.  São 15 mil reais para realizar um novo EP, o segundo da carreira da banda, e também para realizar o primeiro videoclipe. Vai precisar da aposta de muitos. E a arrecadação pelo site CATARSE vai só até final de junho.

O Holofote Virtual conversou com Alex D’Castro, compositor e cofundador da banda sobre os novos trabalhos e para saber mais de como firmar uma banda no cenário musical e fazer dela uma obra única. Também falamos sobre financiamento coletivo, esta plataforma de patrocínio que pode viabilizar filmes, música e outros sonhos.

Antes de qualquer coisa, vale dar a dica. Quem quiser conhecer mais de perto o trabalho do grupo, antes de endossar o financiamento coletivo para os novos trabalhos, pode ir neste domingo, 29, ao evento “A Feira Imperial”, que conta também com apresentação da banda “Feira Equatorial”, a partir das 18h, no Teatro Cláudio Barradas. Veja mais informações, na página de EVENTO.

Relativamente nova no cenário musical, A REPÚBLICA IMPERIAL está num mergulho artístico. Visualizando as possibilidades neste novo mundo das tecnologias e dos compartilhamentos virtuais, sabe aproveitar as oportunidades para mostrar sua música, e vem ganhando espaço em festivais, aumentando o número de fãs reais e de seguidores em redes sociais. Assim, chega a hora de sonhar mais e buscar concretizar as coisas de forma mais profissional e ousada.

Formada por Inês Fernandes (baixo), Glaucia Freire (vocais), Genessi Rodrigues (vocais) e Alex D’castro (vocais) e Wendel Raiol (violão), além de parceiros permanentes, Milton Cavalcante (guitarrista), Daniel Pinheiro (baterista), Anderlene Figueiredo (trompete) e o percussionista JP Cavalcante, com os novos trabalhos realizados, a banda pretende iniciar uma nova fase.

“Temos passado por festivais paraenses muito importantes ao longo desses três anos de trabalho. Já temos um EP gravado, o Cinema Ór, que está disponível no SOUNDCLOUD da banda. Agora estamos trabalhando em nosso segundo EP ‘O PESO DA LUZ’, música que dará vida ao nosso primeiro vídeo clipe”, diz Alex D’Castro.

O Peso da Luz traz cinco composições inéditas e será gravado, mixado e masterizado no estúdio Floresta Sonora, em Belém do Pará. O videoclipe será gravado e dirigido pela Pluvia Produções. A música que dá nome ao trabalho e também é tema do clipe, teve lançamento extraoficial na segunda metade de 2015 e pode ser ouvida no SOUNDCLOUD da banda, mas agora será regravada e relançada ao lado de mais quatro faixas, Escarlate, 1985, Pitaya e Ramalhete.

“Já tocamos duas em algumas apresentações da banda e tivemos ótima aceitação. As outras ainda estão sendo executadas somente entre quatro paredes pra serem lançadas, com exclusividade, no Show que faremos dia 29 de maio no Teatro Cláudio Barradas”, conta Alex D’castro.

Holofote Virtual: Buena Vista Social Club, Real Combo Lisbonense, Sigur Rós, Orquestra Imperial, Nouvelle Vague, Novos Baianos, Doces Bárbaros, Clube da Esquina, The Doors, Sigur Rós, Elis, Caetano. Influências. E sabendo disso, quem nunca ouviu A República Imperial, deve imaginar uma mistura incrível na sonoridade da banda. Como foi encontrar o caminho autoral, onde é que distinguimos “A República Imperial” de suas influências? 

Alex D’Castro: Radiohead também (risos). Logo nos primeiros meses a gente quis entender que não só influências como, também, referências são exemplos de investigação e não receitas prontas, incontestáveis. No exercício da composição, muitas vezes, a gente se atrapalha pendendo pra um desses dois extremos. Mas A República Imperial queria nem aquele nem esse, mas, sim, outro caminho. Foi quando – no meio do caos - o exercício do questionamento nos deu o olhar-limiar que procurávamos. 

Atualmente somos nós quatro (eu, Genessi, Inês e Glaucia) cultivamos esse olhar com esmero pra que ele intervenha cada vez mais em nossas decisões. Tem dado certo, suspeitamos. O resultado dessa inquietação toda, acreditamos estar mais clara em nosso novo show: O Peso da Luz. E não duvide: até hoje a gente, numa só canção, vai se norteando de Dona Onete a Eduardo Galeano. 

Holofote Virtual: A República é uma banda jovem, mas que já traz na trajetória realizações, apresentações, experiências.  Compor, gravar, buscar alternativas de apresentações. Qual tem sido o maior desafio de vocês? 

Alex D’Castro: Existir como banda. A República Imperial funciona, atualmente, como um startup dividido entre quatro sócios que, há anos, abrem mão de seus cachês e somente investem muita grana e tempo para sustentar as necessidades de um conjunto constituído de mais cinco (05) músicos que nos ajudam com muito gosto até onde podem. 

A gente assumiu esse modelo de trabalho porque era injusto, por exemplo, que alguns integrantes estivessem ali “descomprometidos” ou “meio comprometidos” enquanto outros “totalmente comprometidos” deixavam seus filhos, muitas vezes doentes, com outras pessoas, para cumprirem com uma série de atividades ligadas ao funcionamento da banda que, nem de longe, se resumem apenas aos ensaios. Mas no final todos queriam ganhar o mesmo cachê. 

Se você trabalha 8 horas por dia e o seu sócio 3 horas por dia, mas ambos ganham o mesmo valor alguém vai perder o estimulo, né? Resultado: sistematizar foi solução, porque deu uma garimpada no grupo que passou a ser constituído de profissionais altamente comprometidos com a música. Isso gerou mais segurança e dignidade pra quem ficou. 

Outro problema de existir como banda? Imagina dividir mil reais pra nove pessoas e ainda ter de guardar uma parte pra urgências como sair do centro pra Cidade Nova depois de um show que termina meia noite. Impossível! Mas e aí? 

Você vai recusar o show se, por outro lado, também precisa da vitrine? Outro problema? Sem apoio, sem patrocínio, sem leis de incentivo, aprovando novos projetos, a gente, que tá começando, se torna dependente de um sistema que te faz viver puto e decepcionado. Não vou mentir, já pensamos várias vezes em encerrar as atividades da banda. Mas somos de morte: sobrevivemos. Um dia, é claro, o sonho acaba. Mas não antes de uma bela polução noturna. 

Holofote Virtual: Trocando em miúdos para que as pessoas entendam melhor o que é este novo formato de patrocínio cultural... 

Alex D’Castro: O financiamento coletivo é uma ferramenta de captação que além de aproximar o artista de seu público - e vice-versa - ainda te dá a oportunidade de - se concretizado - “driblar” um sistema que muitas vezes atrasa, desgasta e arrasta a vida do artista às vezes por anos. Ou seja, sistemas que “te ajudam” te mastigando lentamente (ainda mais quando você tem os ossos pequenos). 

Holofote Virtual: Vocês já conheciam o CATARSE? Quanto tempo levou para tomar a decisão de fazer uma campanha de financiamento coletivo? 

Alex D’Castro: Quem apresentou o Crowdfunding pra gente foi a produtora executiva com quem trabalhávamos naquele período. Mesmo assim demoramos um (01) ano para tomarmos essa decisão. Pode parecer clichê, mas é fato: quando você perde o medo você se torna livre.   

Holofote Virtual: A difusão da campanha é o mais difícil? Quais as dificuldades para se alcançar as metas e finalmente concretizar um trabalho desta forma?

Alex D’Castro: Sim. É uma grande dificuldade sim. Poderia listar agora mesmo 43 delas. (Risos). Melhor até. O ideal seria uma entrevista exclusivamente apenas sobre esse assunto. No mais é preciso resistir, persistir e se arriscar. Taí a essência da vida, né?! 

O processo burocrático que você tem de sofrer para conseguir captar grana e assim realizar um projeto para conseguir mostrar com uma qualidade relevante o seu trabalho pras pessoas é, antes de tudo, uma batalha onde você já começa (muitas vezes) perdendo. É preciso ter sangue nos olhos, uma dose cavalar de loucura, utopia e coragem. E, é claro, sobretudo, amigos. São estes que te motivam e é através destes que iremos avivar a nossa campanha até o último dia deste ciclo. Trabalho! Artista trabalha que nem um condenado. (Risos). 

Holofote Virtual: Tu és um dos vocais e também o compositor das músicas. Como isso se mistura com tua história, e como se dá esse processo de criação junto ao grupo. 

Alex D’Castro: Passei seis meses compondo O Peso da Luz, música que dá nome ao EP, até enviar o áudio pro grupo da República para aprovação – ou não – da faixa (é assim que trabalhamos desde sempre dentro da banda). Todos gostaram muito e, já dentro de estúdio, a terminamos em três ensaios tal foi a empolgação do conjunto. Ao mesmo tempo O Peso da Luz foi ponta pé de muitas discussões sobre a natureza de minhas letras e sobre o que é afinal a música de mercado. 

O papo foi divisor de águas dentro d’A República Imperial. Nem sempre o que a gente quer e o que a gente precisa andam de mãos dadas – quase nunca -. Por outro lado, O PESO DA LUZ é uma música para todos os sentidos. Seu único compromisso é com a beleza de um estado de espírito árido, místico e violento. Tenho orgulho de termos cometido juntos tamanha ousadia – em contraponto com nossa realidade.

Holofote Virtual: Tem um tanto de tua história nas músicas, qual delas recai mais dentro disso?

Alex D’Castro: Nasci em 1985 em São Miguel do Guamá. Eu e minha mãe, Neuza Almeida, somos de Santa Rita. Naquele tempo (final da década de oitenta e início de noventa) as coisas eram, em parte, como descrevo na música “1985”, em parte, como minha mãe até hoje me conta. “1985” é uma faixa autobiográfica. Tempos depois da realidade que conto na letra, vieram as máquinas e, procurando minerais nas terras do meu avô, transformaram Santa Rita num enorme buraco; um silêncio profundo sobre a ambição do homem. A família se desmembrou. Minha mãe não vê meu avô há mais de 20 anos. Fiz a letra enquanto olhava minha mãe fumando na janela.

Holofote Virtual: Já que estamos esmiuçando a história das músicas qual a história de Pitaya?

Alex D’Castro: “Pitaya” é minha segunda parceria musical com a Genessi Rodrigues. Comecei a compor sozinho - não por opção - desde meus 20/21 anos de idade. As músicas que A República Imperial toca são consequências de uma busca que em primeiro lugar é e sempre foi muito solitária. Em junho de 2015, a Genessi interferiu outra vez nesse processo solitário de modo muito natural. Nela a gente fala sobre esperança e insere uma questão importante encontrada em um poema de Pablo Neruda “se a cada dia cai dentro de cada noite...”. Fomos mais longe até. Colocamos fragmentos desse poema na letra.

Holofote Virtual: Ramalhete e Escarlate também têm histórias?

Alex D’Castro: “Ramalhete”, em primeiro lugar, é efeito das músicas da Dona Onete sobre minha pessoa. Amo o trabalho dela. Há tempos queria compor algo influenciado por ela. E em segundo lugar é uma daquelas músicas que você se esquece do tempo enquanto tá compondo porque, eu nesse caso, pegava a música de vez em quando para, praticamente, me divertir tocando violão e solfejando. 

Um dia uma amiga me contou uma situação da vida dela que se transformou na letra dessa composição. “Ramalhete” nasceu na velocidade dos acontecimentos do meu dia a dia e me ensinou – mais uma vez e definitivamente - que a simplicidade é um luxo.

“Eccarlate” foi a primeira música que consegui compor na minha vida. Comecei a escrevê-la em 2005. Terminei oficialmente em 2011/2012, já com a Genessi Rodrigues. Tudo começou em "Escarlate". Ela é o fio condutor de todo o trabalho da República Imperial. Foi a partir dela que nós dois criamos o nome da banda (A República Imperial) e todo o conceito que reveste a banda. Foi a partir dela que gerei todas as outras composições da minha vida ao longo esses 15 anos de exercício. 

E o engraçado: Foi minha primeira composição depois de um projeto anterior de onde eu saí convencido de que eu jamais seria alguma coisa dentro da música. Cheguei em casa devastado pelo fracasso. Foi quando decidi que faria uma música, sozinho. Naquele tempo eu não tocava violão. Emprestei um de um amigo - eu também não tinha violão – e ESCARLATE nasceu fechando um ciclo de 15 anos e abrindo outro onde já me encontro com 30 anos.

Holofote Virtual: Sobre o videoclipe... Li que terá aspectos influenciados pelo realismo fantástico colombiano e pelo cinema de Lars Von Trier, como traduzir tudo isso...

Alex D’Castro: O roteiro está pronto e já foi todo trabalhado com toda a equipe que está esperando o resultado do nosso financiamento coletivo para realizá-lo. Comecei a escrevê-lo em novembro de 2014. Terminei em setembro de 2015. Foi uma jornada. Bebi do realismo fantástico colombiano e do filme “Dogville” de Lars Von Trier para falar sobre a “cegueira” do homem contemporâneo. 

Holofote Virtual: O que vocês esperam com este conjunto EP e videoclipe?

Alex D’Castro: A gente espera que, com estes trabalhos - se com a ajuda do público, concretizados –, a cultura de nosso estado receba uma contribuição da qual nossa geração se orgulhe e que, através disso, a próxima geração de bandas de nossa cidade possa ver A República Imperial não como a banda de ‘Segundo Ato’, mas, sobretudo, como um grupo de pessoas que acreditou, com muito trabalho e dedicação, que “as coisas podiam ser diferentes” até as últimas consequências.

Holofote Virtual: Além da apresentação no Teatro Cláudio Barradas neste domingo, 29, quais os próximos shows?

Alex D’Castro: Temos outros shows sim! Graças a Deus! Temos uma agenda disponível no nosso site, o www.arepublicaimperial.com . As datas estão todas lá. No Cláudio Barradas o show será com a banda Feira Equatorial do meu amigo Son Maximiana que, diga-se de passagem, foi uma das principais pessoas responsáveis pelo nascimento d’A República Imperial. 

Eu e a Genessi tínhamos jogado a toalha quando ele encontrou a gente e nos deu uma nova esperança. Agora veio e convidou a gente pra fazer parte desse evento lindo. Porra! Que cara legal, olha! A gente tá muito feliz. Ainda mais por ser com a Feira Equatorial que é uma banda com um caminho que está escrito, definido e planejado pelos astros. 

Holofote Virtual: Além disso, e dos projetos da hora, quais os planos para um futuro nem tão distante?

Alex D’Castro: Para o futuro temos a seguinte meta: lançar nosso CD (que já está sendo desenhado) dentro de dois ou três anos no máximo. Temos já oito músicas inéditas pra ele. Também já temos a capa que está sendo feita pelo nosso amigo João Cirilo. Um grande artista, olha!! Somos apaixonados pelo trabalho dele. 

Queremos também que este álbum seja gravado no Casarão Floresta Sonora e sob a direção musical do Leo Chermont (Strobo). Mas enfim. É um plano a longo prazo. Esperamos que com o lançamento deste EP e Clipe novas portas se abram pra que a gente ganhe novo gás para por fogo em nossa Roma Parauara, mais conhecida como Nova Sucupira (Risos).

(Fotos: Acervo e Facebook dos integrantes da banda, Luis Claudio Ferreira)

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