21.6.16

Gawronski encena a performance de um canibal

Fotos: Jorge Etecheber
É a primeira vez que Gawronski vem a Belém com um trabalho, mas já esteve algumas vezes aqui a passeio. “Queria muito vir com um espetáculo pra cá, conheço alguns paraenses que moram no Rio", diz o ator e diretor, que chega a Belém para apresentar "Ato de Comunhão - Login/Logout”, nos dias 25 e 26 de junho, às 20h, no Teatro Gasômetro. O espetáculo é uma livre adaptação da história real de Armin Meiwes, um serial killer que caçava vítimas na internet. Em 2001, na Alemanha, ele foi condenado à prisão perpétua após confessar e relatar seus crimes.

Tribunal, psiquiatria e relações afetivas construídas na internet. Em cena, tecnologia, conexão, solidão, instinto e civilização, que permeiam uma história verídica. A espetáculo estreou em 2011, no Rio de Janeiro e tem direção do próprio Gilberto Gawronski em parceria com Warley Goulart.

Escrita pelo argentino Lautaro Vilo, com tradução de Amir Harif, “Ato de Comunhão- Login/Logout” aborda com elaborada delicadeza, algumas complexidades perturbadoras da vida contemporânea. Em sua performance, Gilberto Gawronski impressiona pela frieza e meticulosidade com que leva ao palco o relato feito pelo protagonista. 

No palco, um homem relembra três momentos de sua vida: o aniversário de oito anos, a morte da mãe e um jantar bastante peculiar com outro homem que conhecera pela internet. O ator desenha traços psicológicos da figura representada, mantendo quase sempre o mesmo tom de voz e a mesma cadência rítmica, tanto nas passagens mais horripilantes quanto naquelas em que o humor predomina. 

Gawronski  conta que ficou impressionado com a construção do texto, que transforma um fato verídico, explorado de forma sensacionalista pela imprensa, em dramaturgia. "Por se tratar de um tema de tribunal, chama atenção de estudantes de direito. Por ser um caso intrigante como é o do canibalismo, também interessa a psicólogos, psiquiatras e por trazer uma visualidade plástica, também é de interesse para artistas visuais", diz o ator e diretor.

O uso de recursos audiovisuais, operados em cena por ele, também tem recebido elogios da crítica especializada pelo refinamento na técnica. “Construímos um ambiente abstrato e tudo que é plasticidade e tecnologia, em cena, funciona como dramaturgia e não apenas como um recurso visual. Isso sempre me incomodou em espetáculos que se utilizam da tecnologia, como algo ilustrativo pra cena”, diz Gawronski.

 A dramaturgia foi buscar na primeira infância cheia de traumas do personagem não uma justificativa, mas ao menos uma explicação para que ele chegasse a fazer o que fez. Meiwes, o “Canibal Alemão”, considera ter feito um favor à sua vítima, já que o outro desejava ser devorado. O encontro foi marcado através de um site de relacionamentos. “Ninguém vai ver carne no palco”, explica o ator, “Há muita delicadeza artística para passar esta coisa tão sórdida, um fato tão bizarro e atroz”, comenta.

Pelo sexto ano em circulação com este espetáculo,  Gilberto Gawronski, diz que embora seja um teatro intimista, o público gosta muito da performance, porque ela aborda um tema atual, que trata das relações afetivas pela internet. “As pessoas se identificam, não com a bizarrice da história, mas por causa dessa ferramenta de encontros, em que mergulham cada vez mais e sem comedimentos. Tudo no espetáculo traz reflexão à respeito ”, diz o ator.

Sobre Gilberto Gawronski

O ator e diretor nasceu em Porto Alegre, mas está radicado no Rio de Janeiro. Apresentou durante quinze anos a criação performática do conto “Dama da noite”, de Caio Fernando Abreu, em vários países e diferentes idiomas. 

Recriou todo o universo pop através da encenação de “Pop by Gawronski”, em que conduziu uma trupe artística, usando figurino inspirado em Andy Warhol. Ironizou a si próprio no espetáculo “Quero ser Gilberto Gawronski”. Dirigiu dança contemporânea, ópera e textos teatrais. O diretor, cenógrafo e ator tem em seu currículo os prêmios Shell, Mambembe, Sharp, APCA, Qualidade Brasil e Açorianos.

Atualmente Gilberto assina a direção de ator da mais nova série da Tv Globo, Super Max, que se passa numa prisão de segurança máxima no meio da Amazônia, mostrando 12 pessoas que participam de um reality show. Cada um traz em seu passado um crime que precisa esconder dos outros. 

Ficha Técnica 

Texto: Lautaro Vilo
Tradução: Amir Harif
Direção: Gilberto Gawronski e Warley Goulart
Atuação: Gilberto Gawronski 
Fotos: Paulo Severo e Jorge Etecheber 
Vídeos: Jorge Neto
Iluminação: Vilmar Olos
Gravação de Áudio e efeitos sonoros: Rodrigo Marçal do Studio ARP.X
Produção Geral: Wagner Uchôa
Produção Local: João Guilherme Ribeiro (Companhia dos Notáveis Clowns)
Operação de som e projeção: Amir Harif
Realização: GPS Produções Artísticas LTDA

Serviço
Ato de comunhão - Sábado, 25, e domingo, 26 de junho, às 20h, no Teatro Estação Gasômetro – Parque da Residência  - Av. Gov. Magalhães Barata, 830 - São Brás. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Informações: 91 4009.8721 (bilheteria do Teatro).

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