25.8.17

Dois Brasis com Toninho Horta e Delcley Machado

Delcley e Toninho Horta (Foto: Walda Marques)
Toninho Horta está em Belém desde terça, 22. Já fez ensaios e um workshop para estudantes e veteranos, com direito a reencontros, afinal, não é de hoje que a música mineira flerta com a música paraense, e vice versa. O projeto estreia aqui reunindo ainda o baterista Eduardo Costa e o baixista Príamo Brandão. Neste sábado, 26, às 22h, no Espaço Tábuas de Maré, com ingresso a R$ 30,00.

Que o Brasil é um país musical e plural, já disseram várias vezes, mas o que muita gente ainda não sabe é que no Pará não existe só carimbó e guitarrada, e que a música instrumental feita aqui, sempre foi potente, gerando artistas virtuoses, alguns deles com projeção internacional, como Sebastião Tapajós, Minni Paulo Medeiros e Albery Albuquerque, para falar de alguns que são da geração anos 1970. 

Delcley Machado começa a firmar sua carreira a partir dos anos 1990, participando ativamente desse movimento que já pariu festivais como o Baiacoll Jazz Festival, Jacofest, Festival de Contrabaixo da Amazônia e o próprio Festival Internacional de Música da Fundação Carlos Gomes, que a cada ano insere, para além da música erudita, o jazz e a música instrumental paraense em suas programações.

Foi inclusive no festival da Fundação deste ano, que Delcley Machado, ao abrir o show de Fátima Guedes, no Bar Palafita, foi ouvido pelo produtor paulistano Fernando Fagerston, e recebeu o convite para participar do projeto “Dois Brasis”, com Toninho Horta, músico com reconhecimento internacional que remonta aos tempos do Clube da Esquina, movimento musical mineiro, marcante na história da música brasileira.

“Sou fã da música paraense, gosto muito da guitarrada, só que ouvi algo diferente quando vi a apresentação de Delcley Machado, naquele dia no Bar Palafita. Fui falar com ele depois do show, e já no dia seguinte fiz o convite para esse projeto que pretende reunir sempre músicos de diferentes regiões do país. Há um Brasil reconhecidíssimo e outro que, embora seja super virtuoso, maravilhoso, audível, não tem acesso ao eixo Rio - São Paulo”, comenta Fernando Fagerston.

Um convite irrecusável

Foto: Walda Marques
Delcley Machado não precisou pensar duas vezes e, se declarando admirador do trabalho de Toninho Horta, com quem teve a oportunidade de tocar anos atrás num mesmo festival, o Tapajazz, realizado em Santarém, aceitou com prazer.

“O Horta pra mim, é antes de mais nada, um ídolo, com uma guitarra própria que onde eu escuto, identifico, tem uma assinatura muito forte. Então para mim é a realização de um sonho. Todo mundo tem esse sonho de estar ao lado do Mestre, mas estar perto é uma coisa, outra é estar dividindo o palco com ele. É algo muito grande pra mim”, diz Delcley.

Conhecido internacionalmente por seu trabalho junto ao Clube da Esquina, onde ao lado de Beto Guedes, Wagner Tiso, Milton Nascimento e os demais mineiros do Clube, Toninho compôs canções que se eternizaram no cancioneiro da música brasileira. 

Delcley Machado nascido no ano de 1973, começou seu interesse pela música nas rodas de choro promovidas pelo seu pai, músico veterano, que participou como percussionista na Orquestra da Rádio Marajoara, em Belém. Músico autodidata começou a desenvolver sua musicalidade aos 9 anos de idade no universo do choro, utilizando como seu primeiro instrumento o Cavaquinho, executando choros de compositores da música brasileira.

No show deste sábado, vão rolar clássicos de Toninho Horta como, "Manuel, O Audaz", "Bons Amigos" e "Beijo Partido", além de sucessos de  Delcley Machado, como: "Lucas", "Temporal" "Rosa Espanha" e "Ensolarando." 

“A gente tem as mesmas influências, gostamos de jazz. Eu gosto da música brasileira, como a música nordestina, por exemplo, mas cada lugar, de onde a gente é oriundo, traz o sotaque daquela cultura e de cada um. Eu e Delcley temos os mesmos ídolos, mas ele pega a guitarra e tem outra linguagem, e eu também. Isso que é bacana e diferencia o nosso trabalho, mas ao mesmo tempo tem tudo a ver”, diz Toninho Horta.

50 anos de carreira e muitos projetos pela frente

Foto: Walda Marques
O músico profissional aos 16 anos, incentivado pelo irmão, começou a tocar na noite belo-horizontina, onde conheceu Milton Nascimento. Após sua transferência para o Rio de Janeiro, no final dos anos 70, ganhou projeção nacional. No início dos anos 80, teve sua primeira experiência tocando com músicos de jazz em Nova Iorque, onde se radicou nos anos 90, consolidando sua arte no exterior. Além do reconhecimento pela crítica mundial e por músicos de toda a parte do planeta, Toninho leva na bagagem 25 CDs lançados, de sua autoria. 

Paralelamente à carreira musical, criou, em 2000, seu próprio selo – Minas Records –, que produziu seis de seus discos, anteriormente lançados apenas no exterior. Desde essa época, se dedicou a projetos especiais, como a gravação do CD Duplo e o DVD “Solo – Ao Vivo”, do Show “Ton de Minas” (Teatro Sesiminas / BH -2004). O repertório forma uma antologia de seu trabalho como compositor.

Em 2005, recebeu mais um reconhecimento em sua carreira, com a indicação à 6ª edição do prêmio Grammy Latino com o álbum "Com o pé no forró", na categoria “Melhor Álbum de Música Popular Brasileira”, ao lado de outros grandes artistas do país. Em 2008 gravou, com Ken Hirai, considerado o cantor mais popular do Japão, a canção “Moon River”, de Henry Mancini, para um documentário sobre os 40 anos da descida do homem na lua, pela NASA (em Nova Iorque).

Em 2009 e 2010 realizou temporadas no Dizzye´s Coca Cola Club, no Lincoln Center, como convidado especial do “Brazilian All Stars Band”, homenageando o maestro Tom Jobim. Em 2010, lançou um CD de homenagens e um livro biográfico. O álbum "Harmonia & Vozes" contou com participação de 150 músicos.  No ano passado, foram lançados os DVDs "Ton de Minas" (do show Solo – Ao Vivo), de Paulo Nicolsky, e o documentário "A Música Audaz de Toninho Horta", de Fernando Libânio.

ENTREVISTA: Um bate papo descontraído e musical 

O blog acompanhou o ensaio realizado na terça-feira, à mineira, na casa da produtora cultural paraense, Silvia hundertmark. O papo com Delcey e Toninho Horta rolou em meio a aromas da gastronomia local e a expectativa para a apresentação, passando pela trajetória de ambos, o lançamento de songbook, que comemora meio século de carreira de Toninho Horta e, claro, o encontro de dois sotaques de guitarras brasileiras.

Toninho Horta e Delcley Machado falam desses diversos Brasis e contam como esse encontro enriquece suas trajetórias. O show deste sábado tem tudo para ser inesquecível e muito, muito especial. Confiram. 

Foto: Walda Marques
Holofote Virtual: Toninho Horta, tu já estivestes várias vezes em Belém, mas talvez nunca dando um workshop?

Toninho Horta: Exato. Na verdade eu já estive aqui antes pra ministrar um workshop sim, há uns anos atrás, na Fundação Cultural, mas foi só uma vez, uma palestra, um bate papo rápido, desta vez é algo com vários músicos, inclusive profissionais. 

Estou há um tempão sem vir aqui, na última, cheguei e fui direto para Santarém, duas vezes, uma para tocar no Tapajazz, e outra para visitar o Sebastião Tapajós. Eu estava vindo de Porto Trombetas. Depois ainda visitei Belém rapidamente. É um lugar que eu gosto muito. Eu gosto de lugares que têm um arquitetura antiga, que tem um história, e aqui tem a Fundação Carlos Gomes, tem o Theatro da Paz. Essa história da música aqui em Belém, sempre efervescente, sempre conheci muitos músicos aqui.

Holofote Virtual: Há esse namoro de influências entre a música mineira com a música paraense, o que acompanhamos há muito tempo...  

Toninho Horta com a amiga Gal
Toninho Horta: Eu já tinha feito muitas amizades por aqui, desde as primeiras vezes que eu vim fazer show, com a Gal Costa em 1973, com o Milton em 1978. A Gal, com o “Índia” e o Milton, com o “Som Imaginário”. 

Desde aquela época sei que o público daqui consome música mineira e instrumental. O próprio Delcley fala abertamente sobre a influência do Clube na Esquina no trabalho dele, e pra gente é muito engrandecedor isso, é um movimento que nasceu em Minas Gerais, conhecido até fora do Brasil, mas que aqui teve uma influência bem forte para os músicos. 

Mais tarde eu fui conhecendo os músicos mais jovens, o próprio Ney Conceição, que é um músico de destaque; que foi para o cenário do eixo do Sudeste, Rio-São Paulo, onde tem a maior vitrine. Tenho sempre encontrado com ele, que tem coordenado uns workshops. Estivemos em Marabá, uns três anos atrás, mas não parei em Belém nessa ocasião, só mesmo de conexão, e tenho participado de eventos com ele, participei de gravações com ele, gravei no último disco dele também.

É sempre bom estar por aqui rever os amigos, e a gente sempre fala nessa possibilidade de intercâmbio, mas é difícil, uma vez com o Flavio Venturini, nos anos 80, a gente tinha um projeto que era Eu, o Flávio, o Nilson Chaves e o Vital Lima. Era o projeto Belém-Belô, e a gente só fez a parte Belém. A parte Belô não aconteceu.

Foto: Walda Marques
Holofote Virtual: Quem sabe agora vai?

Toninho Horta: Sim, era um projeto legal. Agora na área instrumental juntamente com o produtor Fernando Fagerston, que é de São Paulo, um grande amigo, supercompetente, estamos pensando realmente em focar nisso, se pegarmos uma Lei de Incentivo. 

Aí vamos tentar articular, começando aqui pelo norte, mas também nordeste, tendo eu, como uma pessoa “conhecida”, fazendo o papel de Host, o cara convidado para juntar toda essa galera. Então vai ser um prazer e vamos tentar fazer esse intercâmbio, levando o pessoal daqui para o Rio, para Minas, para São Paulo e depois inverter, com gente vindo de lá pra cá, acho que tem que ter isso, porque o Brasil é muito grande, são vários Brasis num só. 

Holofote Virtual: Então essa tua vinda aqui já é um embrião desse projeto?

Toninho Horta: Exatamente, na verdade é assim, as ideias sempre aparecem, mas elas são diluídas por causa das viagens, por causa de falta de apoio, e agora a gente almoçando juntos, conversando, estamos reavivando a ideia, mas eu estou sempre fazendo esse tipo de projeto de interação entre gerações. Há três anos, constitui o instituto Maestro João Horta. A gente está no inicio ainda, publicamos a minha biografia que saiu em 2010, “Harmonia Compartilhada”, da escritora paulista Maria Teresa Campos, que saiu com apoio do instituto. 

O instituto é justamente para facilitar esses trabalhos de educação, e até de nível social com algumas comunidades carentes lá de Minas, montar orquestra, usar o instituto como um meio de angariar recursos para viabilizar o projeto junto a profissionais, dar um “Up grade” pra músicos bons já estabilizados, e fazer intercâmbios internacionais.

Holofote Virtual: Estás também lançando teu songbook, com mais de 100 músicas, pinçadas desses seus 50 anos de carreira. Conta um pouco sobre este trabalho.

Toninho Horta: Foi lançado em junho. É um projeto de quatro anos e que eu vinha fazendo com certa dificuldade, mas quando eu abri o instituto, consegui angariar alguns recursos que puderam dar um apoio pra sair o livro. 

Então está sendo muito bacana essa experiência, e o livro está ai, é um livro bilíngue, com 380 páginas, tem páginas coloridas, com fotos com vários artistas com que eu toquei pelo Brasil, fora do Brasil também. Com orquestras, comentários de músicos, maestros e as partituras.

Holofote Virtual: Vão chegar exemplares aos institutos e escolas de música do país? 

Toninho Horta: A gente vai fazer uma distribuição ainda, mas todo lugar que eu visito, eu faço questão de mandar para as escolas, conservatórios, procuro sempre conhecer um pouco de cada lugar, então sempre tem um cota de distribuição para as bibliotecas, institutos culturais. 

Estamos viabilizando também a venda. Estamos tentando entrar nestas redes, tipo a Saraiva (Livraria), o que não é muito fácil, tem muita burocracia, você tem que ter uma editora de muitos anos, então a gente encontra certa dificuldade, mas temos recebido muitos convites para viajar pelo Brasil, interior de Minas, interior de São Paulo, Rio e outras capitais. Isso então facilita e a gente já chega nas localidades com uma cota pra distribuição. 

No workshop, na quarta e ontem - Fundação Carlos Gomes
Vamos tocar no festival lá em Santarém novamente e vamos deixar no instituto Wilson Fonseca, para que o pessoal possa dar uma olhada no meu trabalho, aliás deu muito trabalho, foram 04 anos para fazer e agora queremos colher os frutos. Temos tido muitos pedidos e estou tentando algumas editoras na Europa, EUA, Japão, mas como o projeto é novo, ainda estamos em conversação. Estou muito feliz com o trabalho, tá muito legal.

Holofote Virtual: Bacana. E você Delcley, agora vamos falar dessas duas guitarras, esses dois Brasis. Como está a programação deste repertório, como vocês combinaram isso?

Delcley Machado: Vamos colocar nossos originais, nossas músicas, e vamos também apresentar os clássicos infalíveis do Clube da Esquina, e outras músicas do Toninho que o público já conhece muito, então vamos dizer que vou pegar um “Jeep” junto com ele para mostrar minhas composições, as coisas que estou fazendo aqui há 20 anos na minha carreira de música instrumental, que é persistência. 

Para fazer música instrumental tem que ter muito amor, muito sangue na veia, porque tem muita coisa que aparece, muito modismo, coisas que as pessoas vão inventando e a gente vai tendo que atravessar essas paredes, essas barreiras, e nós vamos em frente com a nossa música, independente de qualquer coisa, porque assim como eu, como ele, temos a intenção de perpetuar a nossa arte. A gente está completamente com os ouvidos voltados pras nossas ideias, para não se contagiar com modismos e coisas que as pessoas andam inventando por ai.

Foto: Fernando Fagerston
Toninho Horta: Delcley vai cantar, eu vou cantar alguma coisa também. Vai ser um show bem diversificado.

Holofote Virtual: Delcley, tu estás trazendo este teu trabalho novo com canções e participação de outros compositores. Fala um pouco sobre isso.

Delcley Machado: Sim, tem o Ensolarando, que nós vamos tocar. O trabalho tem essa cara nova, que tem mais canto que instrumental, e isso também é influencia do Toninho Horta, porque antigamente pensavam que a música instrumental é instrumental e a música cantada é a música cantada, e não existe isso.


Toninho Horta: A voz é um instrumento também.

 Delcley Machado: Ele veio para quebrar isso, toca duas músicas instrumentais e de repente ele aparece cantando, fazendo vocalizes, é a voz que está trabalhando também, então a gente aproveita, que canta razoavelmente afinado e vamos mostrar isso.

Holofote Virtual: Queria saber dos dois que são guitarristas. Como é essa coisa da guitarra no Brasil, a gente sabe que tem a forte guitarra baiana, tem essa tua guitarra mineira, Toninho, imortalizada no Clube da Esquina. Podemos dizer que há uma ou mais escolas de guitarra no Brasil?

Turnê Europa, "Som Imaginário", com Milton Nascimento
Toninho Horta: Na minha opinião, o Brasil, como todo mundo sabe, é muito grande, possui várias regiões. Minas Gerais dizem que é maior que a França, então são vários países que a gente tem. Temos, por exemplo, o Yamandú (Costa), que vem lá do Sul com essa influencia da Chacareira, Chamamé, músicas em compasso ¾ com todo aquele “rasqueado” do violão. No Mato Grosso tem o lance da viola, cito ainda o Almir Sater, com o violão pantaneiro. Em todo lugar que eu vou tem violonistas, guitarristas, baixistas com seus sotaques, o Michael Pipoquinha, por exemplo, que é do Ceará, toca desde menino, ele toca baixo, mas toca violão também e já tem toda aquela linguagem do Nordeste.

Eu lembro dos violonistas dos anos 1960, do Festival da Canção que fui, lembro que tinha o Dori Caymmi, uma escola de violão, o João Gilberto. E aqui você tem o Delcley, Nego Nelson, tem toda uma história de música regional com o Waldemar Henrique, tem o Sebastião Tapajós. 

A Escola Mineira já é diferente, tem muito direcionamento para harmonias e melodias que acompanham mais as montanhas (sky line das montanhas), subindo e descendo, com intervalos maiores, então cada lugar tem sua linguagem, e isso que é bacana, quando a gente pode inteirar, juntar, como é esse show com o Delcley, juntar essas culturas.

Foto: Uberaba Popular
Holofote Virtual: Vocês possuem essas influências desses outros Brasis?

Toninho Horta: Eu e Delcley temos o regionalismo da nossa cultura musical, mas a gente tem muito mais influência do internacional, do jazz, que a gente sempre ouve. 

Aqueles caras mostraram pra gente, a maneira da música ser livre, ou seja, a música instrumental. O jazz é a maior linguagem, pela improvisação de tudo, pela liberdade musical que a gente pode ter. Temos essa mesma linguagem, mas você vê que tem o violão de Minas que é diferente do Sul, o pessoal da Bahia também.

Delcley Machado: Falando de guitarra no Brasil, eu comecei escutando ele, o Heraldo do Monte, o Helio Delmiro, o Chiquito Braga. Esses são os grandes guitarristas que eu conheço. Saindo desse campo de guitarra tem os gênios que a gente gosta de ouvir, como Gismonti e outros. 

Tem os que vieram depois, os mais novos. Eu não tenho muito a dizer sobre influências daqui, porque eu não tenho muita influência daqui, eu tenho, como ele disse, o sotaque daqui, porque a gente não tem como esconder isso, porque não somos de outro lugar. Acho que tem um movimento aqui de guitarra, que é o movimento da “Guitarrada”, que é um movimento que eu realmente não tenho influencia alguma, admiro, respeito, acho muito legal.

Foto: site do artista
Toninho Horta: O repertório é brega?

Delcley Machado: Não, eu não diria isso, porque a palavra brega, ela tem vários adjetivos, pode ser dita mais como uma música animada, folclórica, divertida, música pra dançar, pra ficar animado, pra ficar alegre, é mais pra entretenimento. Não é a música que eu gosto para ouvir na minha casa, no rádio, ou onde eu possa colocar uma música para eu ouvir. 

A gente sempre está ouvindo coisas que nos acrescente, a gente não pode perder tempo ouvindo música, entendeu? Já que o que a gente produz é música, eu sempre tenho que ficar ouvindo coisas que eu não consigo fazer, que aquilo tenha um pulo do gato que eu ainda não vi, ou uma história de harmonia, melodia. Se eu perder tempo ouvindo Led Zeppelin, por exemplo, eu vou para o ralo. Entendeu? Ouço por ai quando vou na casa dos outros e  está rolando, mas de colocar um disco na minha casa, jamais.

Holofote Virtual: Já falamos do trabalho mais atual do Delcley. E você, Toninho, me falou que está gravando, ou que vai gravar. Tá planejando outro disco, que trabalho é esse que pretende lançar e quando?

Foto: Itauna Fanzine
Toninho Horta: Bem, é o seguinte. Demorou 04 anos para fazer o livro, no meio de tantas viagens, convites de outras pessoas para participar de shows com outros artistas e tal, mas nesse ínterim, nos últimos 03 anos eu produzi um disco da Orquestra Fantasma, que é minha banda original, que é o Iury Popov no baixo, a Ana Horta, na flauta, André Dequech, no teclado, e o Neném, na bateria. É um grupo que o pessoal viaja demais, então é mais fantasma do que real a minha banda (risos), mas é mesmo assim. A banda foi criada em 1981, quando eu comecei a viajar pelo Brasil promovendo meus dois primeiros discos. 

Desde aquela época eu mantive esse quinteto, eu e mais 04 músicos, e agora estamos comemorando, aliás, desde 2012, e que deve sair esse ano. Estamos lembrando os mais de 30 anos de carreira. Já estamos finalizando a mixagem, então vão ser 35 aos de carreira.

Holofote Virtual: Será uma edição especial, o que sai exatamente?

Toninho Horta: O disco vai se chamar Belo Horizonte, tem 17 faixas, mas que reúne coisas do disco Belo, que podemos dizer assim, que são minhas músicas mais clássicas, como Beijo Partido e outras, todas com novos arranjos instrumentais, com a participação do cantor João Bosco, da cantora Joyce e da Iza Ono, que é uma cantora japonesa que canta música brasileira, e que no disco cantou o Beijo Partido. E o disco Horizonte, só com músicas instrumentais inéditas com temas do Iury Popov, do André Dequech e músicas minhas também.

Então vai ter uma edição especial com os dois discos, o Belo e o Horizonte, com fotos e textos sobre esses trinta e poucos anos de carreira e mais a cidade de Belo Horizonte, onde a gente teve essa formação toda de ouvir o jazz, as modinhas mineiras, o Barroco e coisa e tal. 

Esse disco sai agora no final do ano, coincidindo com os 120 anos da cidade de Belo Horizonte. Há uma música que fiz, há 20 anos, para cidade, quando Belo Horizonte fez 100 anos. No disco Belo será cantada por um coral de crianças e pelo Tadeu Franco; e vai ter uma versão instrumental no disco Horizonte. É a mesma música, só que instrumental, com sopros, guitarras. 

Holofote Virtual: Uau, que maravilha. E para a gente fechar, resumindo, Dois Brasis será um show muito rico, pelo já previsto e ouvido aqui...

Toninho Horta: Exatamente. Chama todo mundo, que vai ser um show muito alegre, para cima. A gente vai contar um pouco da história de Minas, um pouco da história do Delcley, essa ligação com a música boa, de qualidade, que é nossa liberdade de criar, como ele falou, é a coisa da resistência da música de qualidade com liberdade e é isso que segura o mundo, porque a gente acaba, querendo ou não, visando o futuro, porque se você toca música descartável, ela sai de cartaz em um ou dois anos. E a música de qualidade não, essa é eterna e pode influenciar pessoas por décadas e décadas.

O Tábuas de Maré, fica na Rua São Boa Ventura, 104 – Cidade Velha.




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