20.1.18

Cobra Venenosa segue turnê pelo Rio de Janeiro

"Baile dos Botos", na Lapa, sábado, 13 de janeiro.
Fotos: Marcelo Valle 
Prestes a lançar o primeiro CD, o Cobra Venenosa difunde seu trabalho no Rio de Janeiro. No último sábado (13), o grupo se apresentou no Baile dos Botos e fizeram um cortejo pelo bairro da Lapa. Ontem (19), realizou oficina e estreou o show "RIO - do Maguari ao de Janeiro", no Lapa Esquina. A partir de hoje, segue para Paraty.

Ganhar o mundo mostrando suas canções, quem não gostaria? Na década de 1970, Mestre Verequete e seu Conjunto Uirapuru, 11 homens e instrumentos, entraram numa Kombi e rumaram ao Rio para fazer um som e gravar um disco.  Hugo Caetano lembra do fato e se inspira nele. “Sempre tivemos vontade de vir pra cá e tocar para esse mar azulzão”, diz ele, um dos fundadores do Cobra Venenosa, que está marcando presença no Rio desde o dia 1o de janeiro. 

Flávio Gama, Antônia Conceição e Nea das Maracas, que também integram o grupo, chegaram esta semana no Rio. O músico e cineasta Matheus Moura também pelo Rio de Janeiro, ontem fez participação no show do grupo. 

Neste final de semana, o grupo chega a Paraty para ministrar oficinas e fazer novas apresentações.  A expectativa é de que a receptividade do público continue sendo tão boa quanto foi na Lapa. 

Inspirados e há dois anos mergulhados no carimbó pau e corda, a decisão de cair na estrada não foi repentina. “Estamos sempre prontos e sempre que dá a gente cai na estrada ou em algum Porto pra pegar o rio. Foi assim nesses anos tocando carimbó. Conhecemos várias regiões do nosso estado, como Marajó, Marapanim, Maiandeua, Maracanã, Bragança, Santarém Novo, Capanema e várias outras regiões”.

A viagem ao Rio é independente, realizada com a colaboração de uma rede de contatos feitos por Priscila Duque em viagem à cidade. “Contamos com uma galera super talentosa, que faz a 'zimba' rolar por terras fluminenses”, diz Hugo, citando os paraenses Arthur Lorran, Cleyton Caminha e Anderson Fortelezinha. “O Anderson é natural da ilha de Maiandeua, e tocava junto com Os Filhos de Maiandeua, um carimbó frenético”, comenta. 

O carimbó na pauta cultural do carioca

Para além de Pinduca, o carimbó parece ter entrado de vez na pauta cultural dos cariocas ou seria apenas um modismo lançado pelas novelas da Globo? Hugo chama atenção, para o fato de já existir no Rio, há algum tempo, uma cena da cultura paraense. 

“Existe uma cena nortista nesta cidade, como o coletivo Caboclã, que reúne músicos de várias regiões do Norte. Tem o coletivo Carimbolar, que trabalha com oficinas de danças numa metodologia que eu diria mística. Tem o Carimbloco, que é um bloco de carnaval organizado por um músico paraense, o Silvan Galvão. E tem a turma do Batuque do Igapó, que faz um carimbó pau e corda da pesada”, diz. 

Para ele, a novela aumentou a visibilidade de algo que já está rolando há algum tempo. “A Amazônia está na pauta do mundo, a gente aproveita a maré para jogar nosso veneno e divulgar o carimbó pau e corda”, completa.

Um disco com som de tambores e vida cotidiana

A Viagem ao Rio de Janeiro dá inicio ao projeto do grupo para 2018, o que inclui além da circulação com shows e oficinas, o lançamento de seu primeiro CD.  

“Tambores da África”, ainda está em processo de produção e gravação. O álbum deve ser lançado até o final deste ano e vai trazer composições de Hugo Caetano e Priscila Duque, parceiros fundadores do grupo e da SubVersiva Produtora, além de várias outras parcerias. 

“Queremos reunir as várias experiências que já tivemos, nesse disco. Ele vem cheio de participações”, adianta Hugo. À exemplo, cita a música "Flores pra Iemanjá", feita em parceria com Mestre Lourival Igarapé, na Praia do Cruzeiro, em Icoaraci. E "O Carimbó Vem de Bike", que terá participação do grupo “Os Africanos de Icoaraci”. “Essa música é uma parceria minha com Ney Lima, que fez o arranjo”, diz o músico. 

Há ainda "Tropical da Mata", parceria de Priscila Duque com Mestre Neves, de Marapanim. “Ele já confirmou a participação no CD, mas a ideia é estender o convite à Mestra Bijica, do Grupo Sereias do Mar, fazendo a conexão Icoaraci - Marapanim. O Mestre Jaci, do Caçulas da Vila, também participará”, afirma Hugo. 

A ideia é fazer um disco bem percussivo, explorar o tambor e deixar ele falar. Para criar os arranjos, foi convocado Flávio Gama. Rodrigo Ethnos assume os tambores e Nea, as maracas. “Tem ainda a Antônia Conceição, maracas e efeitos, Ugô, no Sax, e eu, no banjo, cantando junto com Priscila Duque”, complementa Hugo.

O conceito do disco é o carimbó urbano, mas não só a partir das letras, mas da sonoridade tirada de instrumentos confeccionados de forma consciente, artesanal e supreendente. Hugo toca num banjo feito de capacete de moto, confeccionado pelas mãos de Ney Lima. O tambor é de tubo de PVC, feito por Flávio Gama, e por aí vai. 

“Tradicionalmente, os instrumentos do carimbó são construídos de forma artesanal pelos mestres. No interior a natureza é abundante, diferente da cidade. Porém uma galera começou a buscar alternativas para construir seus instrumentos e fazer o batuque rufar, o que eu chamo de ‘Mestres Urbanos’. O lixo é abundante na cidade, por isso digo que a natureza da cidade é o lixo, e dessa natureza é possível explorar sonoridades, é o que vamos atrás nesse primeiro semestre de 2018”, promete o músico.

O carimbó do Cobra Venenosa traz na poética, o dia a dia urbano e ribeirinho. Fala das contradições dos centros urbanos capitalistas e da natureza. Traz em suas letras temas da violência, desigualdades e também da resistência da cultura ancestral negra e indígena. “A gente canta o que a gente vive e a nossa vida é resistência”, define Hugo.

Acompanhe o grupo:





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