24.2.12

De mala e voz prontas para shows na Dinamarca

Cacau Novais (fotos: Márcio Monteiro)
A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida, já dizia o poeta Vinícios de Moraes. E foi por causa de um desses momentos, que a cantora paraense Cacau Novais abriu mais um caminho para sua carreira na Europa.


Ela está de malas prontas e viaja para a Dinamarca, onde fará apresentações com o Trio do pianista Thomas Walbum, formado também pelo baterista Niclas Campagnol e o baixista Andreas Hatholt. Os dois primeiro ela conheceu em novembro do ano passado, durante a apresentação dos músicos em São Paulo. O repertório, que será de Bossa Nova, vai ser mostrado  nos dias 03 e 09 de março no Tango y Vinos e no dia 08, no Cafè Divino,em Copenhague.

Preocupada com a técnica, Cacau chama atenção em suas apresentações. Além de charme e presença de palco, ela trabalha bem a respiração, obtendo maior prolongamento da nota, afinação e leitura musical. A artista já tocou com vários grupos de jazz da bossa nova em festivais diferentes como Baiacool Jazz Festival, o Festival Internacional de Música do Pará e também participou de óperas de Verdi, como “La Traviata”. 

No encontro com Thomas e Niclas, que faziam shows no Sesc Pompéia, junto ao grupo do contrabaixista brasileiro Sizão Machado, a conversa girou em torno, claro, da música, mas também cultura e viagens. “Falei de meus planos de reencontrar alguns amigos espalhados pelo mundo e levar um pouco do meu trabalho junto. Foi quando surgiu o convite”, conta. 

O pianista Thomas Walbum (divulgação)
Thomas Walbum, nasceu em Lilleroed (ao norte de Copenhague) em 1965 e tem realizado apresentações nos EUA, Austrália, Japão, Brasil e vários países europeus. Vindo de uma família de pianistas, estudou piano clássico desde a infância, e passou a estudar Jazz aos 11 anos de idade. 

Quatro anos depois, já se apresentava pela Escandinávia liderando seu próprio trio. Desde os anos 1990, Thomas mantém uma carreira internacional ativa. Fã declarado do pianista americano Oscar Peterson, Thomas gravou nos Estados Unidos em 2001 o CD “Boston”, mesclando a tradição dos pianos trios a elementos da música nórdica e do Jazz europeu. Acompanhado pelos jazzistas Joe Hunt e John Lockwood, Thomas alcançou com este trabalho o status de grande referência do Jazz europeu da atualidade.

"Em novembro de 2011 eu estava em turnê no Brasil, tocando com Sizão Machado Grupo. Foi durante essa turnê que eu conheci Cacau e nós concordamos em fazer uma turnê juntos na Dinamarca”, diz Thomas em sua página na internet. 

Niclas Campgnol (divulgação)
Niclas Campagnol é da Suécia e no início dos anos 90 mudou-se para Copenhague, na Dinamarca, onde aos 17 anos começou sua carreira profissional.

Desde então atua como um dos mais requisitados bateristas do norte da Europa. 

Sem dúvida o encontro entre Cacau e os dois músicos europeus é coisa de quem está no lugar certo e na hora certa. A paraense, que iniciou a carreira ainda na adolescência, estudando Canto Lírico e que hoje, vem trabalhando com vários estilos que aproveitam a variação melódica do jazz, o sentimento do blues, a suavidade da bossa e a força do rock, bateu um papinho com o Holofote Virtual e contou um pouco sobre o encontro com os músicos, sua carreira e sobre a vontade que tem em gravar o primeiro CD. 

“O Thomas Walbum e o Niclas Campagnol estavam ali para uma série de apresentações no Sesc Pompeia com o grupo do baixista Sizão Machado. Foi conversando sobre vários assuntos que eu comentei que estava pretendendo ir à Europa ainda este ano para reencontrar alguns amigos músicos e fazer um trabalho com eles. Surgiu, então, uma ideia inicial de fazer algo juntos, mas nada formal. Na verdade, só pude mostrar meu trabalho pelas gravações de áudio e vídeo que mandei via e-mail quando eu já estava em Belém e eles de volta à Dinamarca”, diz. 

Com Minni Paulo, no Baiacool Jazz Club
Cacau tem interesses artísticos diversos, embora tenha marca própria. Já participou de Festivais de Ópera do Theatro da Paz (Orfeu de Monteverdi, Macbeth e La Traviata de Verdi, Romeu e Julieta de Gounod) e vem atuando em teatro.

“O primeiro trabalho essencialmente de teatro do qual participei foi o Ópera Profano do Carlos Correia Santos, fazendo o papel da Misteriosa. Foi uma experiência incrível que me aproximou de um contexto diferente - o do teatro - mas, confesso que ainda preciso aprimorar esse trabalho como atriz. Bom, nada melhor do que continuar praticando e estudando, lógico”, considera.

Dividindo seu tempo entre o canto e o trabalho que desenvolve na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, na Galeria Theodoro Braga, ela precisa de fôlego, o que não lhe falta, para conseguir manter a carreira em alto e bom tom. “É sempre muito bom estar inserida nos vários grupos: músicos, atores, artistas plásticos, bailarinos, escritores, pesquisadores... uma das possibilidades da FCPTN é a de estar sempre perto de algumas das pessoas que impulsionam a vida cultural do Estado”. 

Cacau afirma que o trabalho de funcionária pública não atrapalha o lado artístico, mas diz que sua vida é uma correria sempre. “Sou arte-educadora e também atuo como técnica em educação em creches do município. Aí já viu... saio correndo de um lugar pro outro e às vezes ainda vou cantar à noite. De vez em quando preciso de uma pausa, mas não por muito tempo. É sempre bom manter a agenda atualizada, até porque as pessoas sempre perguntam”. 

Cantando Bossa Nova, atuando com blues e jazz, ela vem se apresentando em bares e pubs de Belém, que para ela é uma cidade de vivência musical eclética e de um público disposto a ouvir de tudo. “Acredito que Belém tem público para todos os estilos. Lógico que pra alguns estilos a procura é bem maior”. 

Aqui, a cantora no clic do francês Bruno Pellerin
O gosto musical da cantora lhe permite cantar e ouvir um pouco de cada coisa que aprecia, pois acredita que de cada estilo há o que tirar para seu repertório. 

“Considero todos grandes professores: Bach, Orff, Mozart, Debussy, Ella Fotzgerald, Billie Holiday, Tom Jobim, Baden Powell, Edu Lobo, Elis Regina, Roberta Sá, Waldemar Henrique, Dona Onete, os grupos populares de carimbó. Todos fazem música com tanta sabedoria e com tanta paixão que não tem como não se encantar e aprender um pouco com cada um deles. Atualmente ando bem inclinada pra música brasileira e com interesse no samba”. 

Enquanto realiza este trabalho de apresentações na noite e em festivais, Cacau diz que ainda não encontrou tempo de fato para pensar em gravar CD, mas que é uma grande vontade sua e por isso, não deve demorar muito para realizá-lo. 

“Para fazer um CD vou precisar de uma pausa bem maior pra poder estruturar um projeto, conversar com os compositores, escolher o repertório, fazer os arranjos, enfim. Só que ainda não defini quando vai ser. Confesso que já não dá pra esperar muito, mas ainda não tenho um prazo definido. O que eu desejo é poder cantar sempre e levar meu trabalho pra vários outros lugares e sempre mantendo as minhas raízes”, finaliza.

Nenhum comentário: